O Kremlin voltou a tentar associar o ataque terrorista da semana passada em Moscovo à guerra na Ucrânia e estendeu as suas suspeitas aos Estados Unidos, apesar de, esta quarta-feira, ter apresentado versões diferentes para a mesma história.

A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, considerou que “é extremamente difícil de acreditar” que tenha sido o Estado Islâmico a levar a cabo o atentado, que vitimou mais de 140 pessoas na sexta-feira – mesmo que a própria organização terrorista tenha reivindicado o ataque. Segundo o The Guardian, Zakharova usou a sua conferência de imprensa semanal para repetir as suspeitas lançadas por Vladimir Putin na segunda-feira.

As alegações contra a Ucrânia pela suposta orquestração do ataque foram também defendidas pelo serviço de informação russo, o FSB, que apontou igualmente o dedo aos EUA e ao Reino Unido. Segundo avançou a Reuters, o diretor da agência de segurança confirmou que as autoridades estão a avaliar um pedido do parlamento russo, para investigar “a organização, financiamento e condução de atos de terrorismo” pelos norte-americanos e outros países do Ocidente.

No entanto, a propaganda do Kremlin choca com as declarações do seu maior aliado, o Presidente bielorrusso, que referiu esta terça-feira que os responsáveis pelo ataque teriam tentado entrar no seu país. À agência estatal Belta, Aleksandr Lukashenko contou que as medidas de segurança na Bielorrússia foram “imediatamente reforçadas” após se saber do ataque, e prometeu conversar com Putin para lhe transmitir as suas suspeitas.

Aleksandr Lukashenko, Presidente da Bielorrússia

Anadolu Agency / Getty Images

Ucrânia afasta acusações e pede mais armas

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, insistiu que as acusações russas sobre o alegado envolvimento ucraniano no atentado em Moscovo são falsas e absurdas, acusando Moscovo de propaganda sem limites.

“Não é assim que lutamos”, sublinhou Kuleba, alegando que “as atrocidades contra civis” fazem parte do comportamento russo, “como tem sido visto nos últimos dois anos”, desde que o Presidente Vladimir Putin ordenou a invasão militar do país vizinho.

Tudo isto ocorre num contexto de escalada dos bombardeamentos russos na Ucrânia. Entre 18 e 24 de março, caíram sobre a Ucrânia 190 mísseis de vários tipos, 140 ‘drones’ Shaheed e 700 bombas guiadas, de acordo com números apresentados por Kuleba num encontro virtual com meios de comunicação internacionais.

“A Ucrânia é o único país no mundo atacado com mísseis balísticos quase todos os dias”, acrescentou o chefe da diplomacia ucraniana, que pediu mais sistemas de defesa antiaérea – em particular os sistemas Patriot – para contrariar as ameaças russas.

Quanto à chegada dos primeiros caças F16, Kuleba reconheceu que é um assunto complicado, mas que “a situação pode mudar”, lembrando o plano inicial de que as entregas comecem no verão.

Outras notícias

> O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou hoje que inspecionou as novas linhas de defesa que o exército começou a construir no nordeste da Ucrânia, há algumas semanas, para tentar travar o avanço russo. “A construção de fortificações continua na região de Sumy. Inspecionei trincheiras, abrigos, posições de tiro, de comando e de observação”, escreveu Zelensky nas redes sociais.

> Vários ataques russos fizeram hoje pelo menos três mortos e 28 feridos, nomeadamente em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, próxima da fronteira com a Rússia e cada vez mais bombardeada pelo Exército russo. Mais duas pessoas foram hoje mortas em ataques noutros pontos da Ucrânia, incluindo numa aldeia em Kherson e na localidade de Nikopol.

> Um tribunal russo condenou hoje à revelia a cantora Liudmila (Lucy) Shtein, membro do grupo punk Pussy Riot, a seis anos de prisão por ter, alegadamente, espalhado “informações falsas” sobre as forças armadas russas. A cantora foi acusada de “divulgar (…) informações deliberadamente falsas sobre as forças armadas”, através de uma publicação de uma mensagem na rede social X, em março de 2022, na qual Lucy comentava um vídeo em que soldados ucranianos disparavam contra as pernas de prisioneiros de guerra russos.

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