É professor de engenharia de ‘software’ social no ‘cluster’ de Engenharia e Tecnologia de Software da Universidade de Tecnologia de Eindhoven (TU/e) e esteve em Portugal a participar na conferência internacional ICSE2024. Desenvolve o seu trabalho na área da engenharia de ‘software’ e a inclusão, investigando aspetos sociais da engenharia na programação e os seus impactos.

“Precisamos de compreender como é que a tecnologia, seja ela qual for, está a influenciar grupos de diferentes pessoas” devido a fatores como a “língua e o género”, mas há “mais dimensões” a ter em conta, refere.

E “é preciso estar consciente de que esta tecnologia afeta pessoas em diferentes formas” e não apenas por causa da diferença da tecnologia, refere Alexander Serebrenik.

E como é possível tornar o mundo do ‘software’ mais inclusivo se este é desenvolvido na maior parte por homens, por exemplo? “Essa é uma questão interessante”, diz, apontando que há dois caminhos.

Para tornar mais inclusivo é preciso atrair “pessoas de grupos sub-representados” e, neste campo, “há muito trabalho a fazer”, elenca. Mas “atrair não é suficiente, é preciso reter as pessoas, trazer as pessoas é metade do problema”, é preciso “garantir que se mantêm e são produtivos”, o que é “muito desafiante”, argumenta o académico.

Em segundo, é preciso “tomar consciência do facto de que não temos muitas pessoas de grupos sub-representados no desenvolvimento de ‘software’ e que levará anos para melhorar a situação”, mas “temos que fazê-lo”, defende Alexander Serebrenik.

As pessoas que pertencem “ao grupo dominante deveriam estar mais conscientes do impacto do seu trabalho”, alerta.

Questionado se considera que dentro de três a cinco anos haverá mais diversidade no mundo do ‘software’, responde: “Sinceramente, espero que sim”.

“Algumas empresas estão [conscientes da necessidade de diversidade], outras não. É complicado, no sentido em que há empresas” que se afirmam inclusivas, “mas não estão a fazer nada, estes são os piores casos”, aponta.

Depois “há empresas que realmente estão ativamente a tentar trazer pessoas” que não seriam contratadas, como é o caso do programa ‘returnship’ [por exemplo mulheres que interromperam a carreira para tomarem conta dos filhos].

“As empresas que estão a oferecer estes programas de regresso [‘returnship’]” nas tecnologias de informação estão a formar não para as suas empresas mas para outras, que são seus clientes, exemplifica.

Há uma empresa na Bélgica, por exemplo, que tem como alvo específico autistas — a Autimatic — e tem como objetivo fazer o ‘match’ [combinação] com empregos de ciência de dados e IT [tecnologias]. No fundo, são um “‘matchmaker’ entre empresas e indivíduos e também um centro de formação”, sublinha.

Sobre a necessidade de regulação para garantir a diversidade no ‘software’, Alexander Serebrenik assume ser “difícil regular este tipo de coisas”.

Aliás, “estou muito curioso para ver como é que isto funciona em termos de aplicação”, diz, aludindo à lei europeia sobre inteligência artificial (IA).

“Temos o RGPD [Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados] desde há pouco anos, estou muito curioso em ver a prática jurídica porque até agora há muitas interpretações à volta”, prossegue.

“Sem dúvida que o RGPD tem as melhores intenções, mas como isto irá funcionar em cada única situação”, sendo que com o tribunal vai “levar anos”, é “difícil de dizer”.

Sobre a IA, recorda um encontro recente com estudantes do primeiro ano e alguns professores em que a questão era por que é que se está a formar cientistas da computação se a inteligência artificial vai deixá-los desempregados a qualquer momento.

“Respondi: ‘Não estejam tão aterrorizados. Claro que a IA vai alterar e já começou a alterar a engenharia de ‘software’, mas isso não significa ficar sem trabalho, apenas significa que o vosso trabalho vai ser diferente'”, relata.

A IA traz desafios, mas o investigador alerta que “nem todos estão a beneficiar da ferramenta da mesma maneira”.

Dá o exemplo das pessoas que preferem comunicar em chinês poderem estar “em desvantagem”, aludindo a um ‘paper’ em que um sistema de IA tinha de responder às mesmas questões em três línguas (inglês, chinês e japonês). “A precisão das respostas em chinês foi a mais baixa”.

O interesse de Alexander Serebrenik sobre diversidade no ‘software’ surgiu há cerca de uma década, quando ele e a sua equipa começaram a trabalhar nestes tópicos.

Para o académico, a IA pode contribuir para maior consciência da necessidade de diversidade em todas as plataformas.

“A questão é como são usadas”, pois “não só a tecnologia é disruptiva, mas também a forma como usamos a tecnologia é disruptiva, a IA pode ser tudo e pode ser nada”, adverte.

Quando se expõe a informação de uma determinada maneira isso irá beneficiar pessoas que têm um perfil particular e colocar em desvantagem quem está fora deste perímetro.

“A área de ‘software’ é dominada por homens, logo a solução tende a funcionar para os homens. A IA pode ser útil — não é útil por si só, depende de quem está a usar”, insiste.

O investigador classifica de “ponto doloroso” a guerra tecnológica entre os EUA e a China, com o banir da Huawei e a eventual proibição do TikTok pois, do ponto de vista da ciência, “todos partilham” e “nesse mundo ideal” trabalham todos juntos.

Por exemplo, a União Europeia (UE) “não deixa facilmente entrar em colaboração com parceiros” fora do bloco, o que pode ser visto como “protecionismo” e “não encoraja a trabalhar e a aprender com os melhores”. Em suma, “as tensões tecnológicas são óbvias”.

E um conselho para os jovens estudantes de engenharia de ‘software’ sobre diversidade: “Estejam conscientes de que estão a moldar o mundo, é uma grande responsabilidade (…)”, pelo que em qualquer decisão que tomem “tentem perguntar a alguém que é completamente diferente de vós — género, cultura, idade, entre outros — e ponham-se nos sapatos do outro”.

Porque “a decisão que estão a tomar irá afetar alguém, direta ou indiretamente”, remata.

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