Há vinte anos, Portugal foi o primeiro país na Europa a reconhecer a obesidade como uma doença crónica, que “requer estratégias de longa duração para a sua prevenção e gestão efectivas”. Este reconhecimento veio sublinhar a necessidade de uma abordagem multidisciplinar e integrada, destacando a obesidade como um verdadeiro desafio de saúde pública.

Duas décadas depois, testemunhamos um avanço sem precedentes no conhecimento e na inovação no tratamento da obesidade. A ciência evoluiu, sobretudo nos últimos anos, oferecendo-nos novas perspetivas sobre as causas subjacentes e possibilitando o desenvolvimento de respostas terapêuticas inovadoras. Hoje, compreendemos melhor que a obesidade é uma doença real, crónica, centrada no cérebro, e não apenas uma consequência de escolhas individuais de estilo de vida.

Vivemos, assim, uma oportunidade para travar a curva daquela que a OMS descreve como a “epidemia do século XXI”. Temos o conhecimento, os meios – precisamos de vontade política, colaboração e ação efetiva.

Em 2021, foram publicadas 13 recomendações da Assembleia da Républica ao Governo para a prevenção, tratamento e combate da obesidade. A consequência prática deste passo não é visível.

Mais recentemente, em dezembro de 2023, é determinada pelo Ministério da Saúde a implementação de um Modelo Integrado de Cuidados para a Prevenção e Tratamento da Obesidade, com o objetivo de assegurar o acesso oportuno a cuidados de saúde de qualidade para pessoas com pré-obesidade e obesidade. É com expetativa que olhamos para esta intenção, interpretando-a enquanto compromisso com a orientação da prática clínica para os resultados, para a qualidade e para uma utilização mais efetiva dos recursos. Mais importante, enquanto compromisso com o imperativo de colocar as necessidades dos doentes no centro das escolhas que fazemos. É neste contexto que consideramos ser incontornável o reconhecimento do valor da inovação terapêutica e a sua efetiva adoção, garantindo que os doentes que precisam têm acesso ao tratamento certo, no tempo certo.

Enquanto sociedade, temos estado disponíveis para investir no tratamento de doenças atribuíveis, em larga medida, à obesidade – diabetes tipo 2, acidente vascular cerebral (AVC), alguns tipos de cancro, entre eles o cancro do útero e da mama. É tempo de dar prioridade ao investimento no tratamento da obesidade e assim contribuir para a redução da carga de doença e dos custos associados que, em Portugal, se estimam em 1,15 mil milhões de euros, cerca de 0,6% do PIB e 5,8% das despesas de saúde em Portugal, considerando apenas os custos diretos no Serviço Nacional de Saúde.

Agarrar a oportunidade que a inovação científica nos apresenta é assumir um compromisso sério com a saúde das atuais e futuras gerações, bem como com a sustentabilidade do nosso sistema de saúde, considerando a dimensão do custo humano e económico que a obesidade e as doenças relacionadas acarretam para os indivíduos, para a economia e para a sociedade portuguesa.

É tempo de dar prioridade à obesidade. É tempo de unir esforços para garantir um Portugal mais saudável, mais equitativo e mais sustentável.

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