“Parte do que está a acontecer quando desenvolvemos a inteligência artificial (IA) é que temos de pensar sobre o que consideramos ser a inteligência”, e por isso temos também de pensar “sobre o que significa ser humano”, disse o investigador em entrevista à Lusa a propósito do lançamento em Portugal do livro “Uma Vida com Sentido”, de que é coautor.

O professor de teologia admitiu que, apesar de não o surpreender, preocupa-o que a inteligência que está a ser desenhada seja “a que filosoficamente se chama de razão instrumental, uma inteligência que só sabe pensar sobre os meios e não sobre os fins”.

Esse é o motivo de muitas das preocupações sobre a inteligência artificial, que “pode superar em muito” a humana.

Para Croasmun, esta tecnologia “poderia acabar por destruir o mundo mais ou menos por acidente, porque não sabe pensar nas consequências dos seus atos. Sabe pensar sobre qual o melhor caminho para chegar do ponto A ao ponto B, mas não sabe qual o ponto B a que vale a pena chegar”.

O investigador, que dirige um curso sobre o sentido da vida inspirado nos ensinamentos de filósofos e líderes espirituais históricos, associa esta forma de inteligência à do ser humano, que ao longo dos séculos tem ficado “cada vez melhor a pensar nos meios e cada vez menos preparado para pensar sobre os fins”.

“Estamos melhores a pensar em como chegar aos nossos objetivos, mas esquecemos muito sobre o que significa escolher os objetivos certos. E quando nos pomos a desenhar uma inteligência artificial, fica apenas a versão mais extrema desse defeito que temos”, disse.

Apesar disso, Croasmun acredita que é possível aproveitar a oportunidade para desenhar inteligências artificiais que enriqueçam o mundo em vez de o porem em perigo e que ajudem o ser humano a “redescobrir e valorizar partes de si que deixou adormecidas por demasiado tempo”.

“Seria desejável para mim que todo este projeto da IA chamasse a nossa atenção de volta para o tipo de inteligência, e mais do que inteligência para o tipo de sabedoria, que valorizamos como espécie”, disse.

Para o pensador, seria “um bom resultado do momento societal” atual que a humanidade redobrasse os seus esforços “para cultivar uma espécie de sabedoria humana”.

O livro “Uma Vida com Sentido”, de Matthew Croasmun, Miroslav Volf e Ryan McAnnally-Linz e editado pela Planeta, baseia-se no curso ‘Life Worth Living’ dirigido por Croasmun e oferece pontos de partida, roteiros e hábitos de reflexão acerca do sentido da vida, ajudando os leitores a compreender o que faz com que a vida valha verdadeiramente a pena ser vivida.

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