G3

A G3 era a arma mais utilizada pelo Exército português em 1974. Quem
combateu na Guerra Colonial dormia com ela a seu lado e, por isso,
ficou conhecida como “namorada”. Foi concebida na Alemanha e G3 é o
acrónimo de Gewehr 3, que significa espingarda 3. Foi a arma-símbolo
do 25 de Abril, utilizada pelos militares revoltosos.



Cravo

O cravo vermelho tornou-se o símbolo maior do 25 de Abril e de uma
revolução (quase) sem sangue. Vasco Lourenço, um dos capitães que
protagonizou a revolução, tem duas explicações para que o cravo se
tenha tornado, por acaso, a flor icónica do movimento
revolucionário. A primeira é a de que, nesse dia de 25 de Abril de
1974, um restaurante situado na Rua Braamcamp, em Lisboa, comemorava
o seu primeiro aniversário e o proprietário resolveu comprar cravos
vermelhos para oferecer às clientes. Com o eclodir da revolução, o
patrão decidiu fechar as portas e oferecer os cravos às
trabalhadoras. Uma delas, chamada Celeste, ao passar pela Avenida da
Liberdade, começou a distribuir cravos aos soldados, dando uma
explicação para o gesto: “desculpem, mas não tenho mais nada para
vos oferecer”. Os soldados optaram, então, por colocar os cravos nos
canos das armas. Uma outra narrativa sugere que as vendedeiras de
flores do Terreiro do Paço resolveram vitoriar os revolucionários,
oferecendo-lhes cravos. A realidade é que a história de Celeste e
das vendedeiras do Terreiro do Paço se fundiram, transformando esta
flor na principal imagem de marca do 25 de Abril.


Megafone

O Largo do Carmo estava repleto de populares e militares. O ambiente
era tenso. No quartel, membros do Governo, incluindo o presidente do
Conselho, encontravam-se sitiados e era exigida a sua rendição. A
pedido dos militares, Francisco Sousa Tavares sobe a uma das
guaritas situadas no exterior do quartel e, de megafone em punho,
fala às massas e anuncia: “povo português, vivemos num momento
histórico como desde os dias de 1640 não se vive: é a libertação da
pátria.” Fica para a história como o primeiro político português a
falar ao povo, tendo seguido de perto as operações comandadas pelo
capitão Salgueiro Maia. Na edição de 24 de abril de 1980 do jornal
“A Capital”, Francisco Sousa Tavares, que também foi advogado e
jornalista, recordava assim esse dia: “Levada pelo sopro da
liberdade, a multidão acorria e o quadro do povo expressava ali a
vontade da nação contra qualquer veleidade de repressão
sangrenta. Maia, audacioso e sereno, pediu-me que falasse ao povo.
Fi-lo por duas vezes, uma através dos microfones dum camião da Rádio
e, mais tarde, com um megafone, empoleirado na guarita da sentinela
do Carmo – imagem de Épinal da Revolução em que o povo e a tropa se
abraçavam para libertar a Nação.” Imagem de Épinal, explica o blogue
“Crónicas Portuguesa”, “é uma expressão de origem francesa, aplicada
a uma imagem, quando esta assume um significado ingénuo, algo que
nos mostra apenas o lado bom de um acontecimento. Francisco Sousa
Tavares refere-se às fotografias que lhe tiraram quando, sentado na
guarita do quartel do Carmo, falava com um megafone à multidão.”


Chaimite

Às 18.30, o chaimite “Bula” entra no Quartel do Carmo para
transportar Marcello Caetano, que entretanto se rendera aos
militares revoltosos, à Pontinha. O chaimite é um dos ícones do 25
de Abril. Foi comandando uma coluna de chaimites que o capitão
Salgueiro Maia partiu de Santarém, na madrugada de 25 de Abril, com
destino a Lisboa e com uma missão – ocupar o Terreiro do Paço. Todos
os 240 homens da Escola Prática de Cavalaria de Santarém se colocam
a seu lado quando ele anuncia os seus objetivos e o porquê dos
mesmos “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de
Estado: os Estados sociais, os corporativos e o estado a que
chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que
chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa
e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não
quiser sair, fica aqui!”. O chaimite, um veículo blindado ligeiro,
começou a ser produzido em 1966 e esteve operacional, em diversas
versões, durante cerca de 40 anos. 


O “V” da Vitória

Fernando Madaíl, jornalista, num artigo publicado a 25 de Abril de
2009 no “Diário de Notícias”, escreve que o “V”, desenhado com os
dedos indicadores e médio, que se tornou um ícone da revolução, foi
um gesto instintivo do então alferes miliciano Maia Loureiro, o qual
integrava a coluna de Salgueiro Maia. O “V” tomou conta dos
portugueses e acompanhava palavras de ordem como “o povo unido
jamais será vencido” e “o povo está com o MFA”. Maia Loureiro
explica então ao “DN” o porquê do gesto: “Tive a noção que tínhamos
vencido. Aquele gesto saiu-me. Não pensei no Churchill nem em nada.
Foi espontâneo.”


Calças à “boca de sino”

As calças à “boca de sino”, largas na extremidade, de forma a
taparem os sapatos, eram uma das imagens de marca dos jovens
revolucionários e de uma determinada intelectualidade urbana. Este
tipo de calças estava também associado ao fenómeno ‘hippie’, nascido
nos anos 60, que proclamava a “paz e o amor”.


Sede da PIDE

A sede da PIDE, na rua António Maria Cardoso, é palco de tiroteio na
tarde do 25 de Abril. Os agentes da PIDE recusam a render-se e abrem
fogo sobre a multidão que cerca o edifício. Fazem quatro vítimas
civis: Fernando C. Gesteira, José J. Barneto, Fernando Barreiros dos
Reis e José Guilherme R. Arruda. Uma placa colocada no edifício em
1980 por um grupo de cidadãos perpetua a homenagem aos únicos quatro
mortos da revolução dos cravos. 


O menino, o cravo e a G3

A imagem de um menino a colocar um cravo numa G3 é emblemática do 25
de Abril. A fotografia que deu origem ao cartaz foi feita nesse
mesmo dia por Sérgio Guimarães, falecido em 1986. António Ferra, no
blogue “O funcionamento de certas coisas”, relata como tudo
aconteceu. “Perguntei-lhe [a Sérgio Guimarães] como a tinha feito e
lembro-me de ele me contar que, no dia 25, pegou no filho do Pedro
Bandeira Freire, que na altura teria dois ou três anos, e foi com
ele ao aeroporto da Portela para fazer a célebre fotografia. Pediu a
três soldados da Marinha, da Força Aérea e do Exército para
segurarem na arma, e click com a Nikon. ‘Parece que o miúdo está a
colocar o cravo na G3, mas não, ele está esticado para tirar o cravo
que eu lá pus em cima’”.


Junta de Salvação Nacional

A Junta de Salvação Nacional foi a designação escolhida para
identificar um grupo de militares designados para assegurar o
funcionamento do Estado durante um período de transição. Esta Junta
era presidida por António Spínola (general do Exército) e dela
faziam também parte Francisco da Costa Gomes (general do Exército),
Jaime Silvério Marques (brigadeiro do Exército), Manuel Diogo Neto
(general da Força Aérea ausente em Moçambique), Carlos Galvão de
Melo (coronel da Força Aérea), José Baptista Pinheiro de Azevedo
(capitão de mar e guerra) e António Rosa Coutinho (capitão de
fragata). António Spínola foi nomeado Presidente da República a 15
de maio e, em 11 de março de 1975, a Junta foi extinta, tendo sido
substituída pelo Conselho da Revolução.


Posto de Comando do MFA

O Posto de Comando do MFA, instalado no Regimento de Engenharia 1,
na Pontinha, foi o centro de coordenação da revolução. Neste posto
encontravam-se o major Otelo Saraiva de Carvalho, o capitão-tenente
Vítor Crespo, o major Sanches Osório, o tenente-coronel Garcia dos
Santos e o tenente-coronel Fisher Lopes Pires. Mais tarde,
juntar-se-ia a este grupo, vindo de Tomar, o major Hugo dos
Santos. O capitão Luís Macedo, oficial da unidade, garantia a
segurança do Posto de Comando, ao qual o major José Maria Azevedo
dava apoio.


Murais

Os murais eternizaram-se como um elemento iconográfico do 25 de
Abril de 1974, utilizado pelos partidos de esquerda e
extrema-esquerda para promoverem o ideal revolucionário e o conceito
de uma sociedade sem classes. Alastraram-se pelas paredes de todo o
país, constituindo-se como uma forma de manifestação artística. O
mural pintado na Avenida de Ceuta, em Lisboa, com palavras de ordem
como “o sol brilhará para todos nós”, “a terra a quem a trabalha” e
“junta-te a nós camaradas” é um dos mais representativos dessa
época.


Autocolantes

Logo após o 25 de Abril, os autocolantes multiplicaram-se. Colados
ao peito dos portugueses, identificavam as suas preferências
políticas ou remetiam para mensagens fortes como “o povo unido
jamais será vencido”, “a reação não passará” ou “fascismo nunca
mais”. Eram produzidos por partidos políticos, associações de
amizade, sindicatos e muitos outros tipos de organização.


Definitivos, Provisórios e Quinas

Nos idos de 1974, duas marcas de tabaco faziam escola. Por não terem
filtro e serem mais baratas. Os maços de cigarros Provisórios e
Definitivos, preferencialmente consumidos pelos operários, foram
também adotados pela intelectualidade revolucionária. Os cigarros
eram acendidos com caixa ou carteiras de fósforos da marca Quinas.


Rádio Philips

Aparelho onde os militares que estavam no posto de comando da
Pontinha acompanhavam as transmissões radiofónicas, o primeiro
suporte de divulgação dos seus comunicados. Estes rádios, a
válvulas, captam frequências em onda média e onda curta. Hoje, o FM
(frequência modelada) é o método de transmissão mais usado pelas
estações de rádio.


Rolo Fotográfico

As câmaras fotográficas digitais pertenciam ao domínio da
imaginação. As máquinas estavam equipadas com rolos, habitualmente
com capacidade para registarem 24 ou 36 imagens. Os rolos eram
depois revelados e só então se podiam visualizar as fotografias. Os
repórteres fotográficos que captaram as mais icónicas imagens do 25
de Abril foram Eduardo Gageiro, Alfredo Cunha, Rui Ochôa, Bruno
Neves e Inácio Ludgero. 


Largo do Carmo

Lugar simbólico do 25 de Abril. O largo permanece inalterado no
plano arquitetónico. Foi no quartel localizado neste largo que o
então presidente do Conselho, Marcello Caetano, se refugiou. E foi
aqui que os populares se aglomeraram para vitoriar a revolução.

Carregue na imagem para ver o Programa na íntegra


Programa do MFA

As bases programáticas do MFA foram redefinidas num documento que
começou a circular a 5 de março de 1974. O programa assentava em
três conceitos-chave: democratizar, descolonizar, desenvolver. O
documento estava estruturado em três pilares: medidas imediatas,
medidas a curto prazo, considerações finais. “O sistema político
vigente não conseguiu definir, concreta e objetivamente, uma
política ultramarina que conduza à paz entre os portugueses de todas
as raças e credos”, constata o MFA, acrescentando que “a definição
daquela política só é possível com o saneamento da atual política
interna e das instituições, tornando-as, pela via democrática,
indiscutidas representantes do Povo Português”.


Cassetes

Mais baratas do que os discos de vinil, as cassetes tornaram-se o
formato preferido para gravar ou reproduzir música. Existiam no
mercado cassetes de 30, 45, 60, 90 ou 120 minutos. Juntamente como
os gravadores/leitores portáteis de cassetes, permitiam que a música
fosse escutada em qualquer lugar.


Fernando Salgueiro Maia

O capitão Fernando José Salgueiro Maia liderou a coluna de blindados
que, vinda de Santarém, fez cerco aos ministérios do Terreiro do
Paço. Mais tarde, no quartel do Carmo, forçou a rendição de Marcello
Caetano. É o rosto principal da história feita de imagens desse dia
25 de Abril.


Televisão

O relógio Omega Memomatic, que patrocinava os espaços informativos
da RTP, marca 18h40 quando Fernando Balsinha surge no ar para
noticiar a revolução. O ponto da situação é feito, logo de imediato,
por José Fialho Gouveia. Após cerca de quatro minutos de emissão,
Fernando Balsinha anuncia que a RTP vai transmitir, de seguida, a
sinfonia nº 3 de Beethoven e que a informação voltará de seguida. O
Telejornal regressará às 21h30, outra vez protagonizado por Fernando
Balsinha e Fialho Gouveia, com informação mais detalhada sobre o
dia. Os estúdios da RTP no Lumiar haviam sido ocupados às 03h25 do
dia 25 de Abril. 


Rádio

Meio de comunicação utilizado pelos revoltosos para desencadearem a
revolução. A primeira senha foi emitida nos Emissores Associados de
Lisboa. Faltavam cinco minutos para as 23 horas quando João Paulo
Dinis pôs a tocar a canção “E depois do adeus”, de Paulo de
Carvalho. A segunda senha passou na Rádio Renascença, sob a forma de
uma música, “Grândola Vila Morena”, posta a tocar à meia-noite e
vinte por Manuel Tomás, no programa “Limite”. É também através da
rádio que são emitidos os primeiros comunicados do MFA.


Sud-Express

A 27 de abril, o líder socialista, Mário Soares, embarca em Paris no
Sud-Express, com destino a Lisboa, onde chega um dia depois.
Acompanham-no os dirigentes socialistas Fernando Oneto, Tito de
Morais e Francisco Ramos da Costa. O Sud-Express, comboio que havia
transportado muito emigrantes portugueses com destino a França,
ganhou então o epíteto de “comboio da liberdade”. As imagens de
Mário Soares à chegada a Santa Apolónia tornaram-se iconográficas. A 17 de março de 2020, os comboios Sud-Express circularam pela última vez devido à pandemia de covid-19.


Música de intervenção

Canções de pendor social e político que, antes do 25 de Abril, eram
arma de resistência e, depois dele, se transformaram em bandeiras de
liberdade. Luís Cília, José Afonso, José Barata-Moura, José Mário
Branco, Sérgio Godinho, Brigada Victor Jara ou Fernando Tordo, entre
muitos, eternizaram em música esse período da História de Portugal.
“A Cantiga é uma Arma”, canção gravada pelo Grupo de Ação Cultural,
é uma das memórias vivas de então. “A cantiga é uma arma/eu não
sabia/tudo depende da bala/e da pontaria/tudo depende da raiva/e da
alegria/a cantiga é uma arma/de pontaria”. 


Palavras de ordem

Depois do 25 de Abril, as manifestações tornaram-se recorrentes e
palavras de ordem como “o povo unido jamais será mais vencido”, “o
povo está com o MFA”, “nem mais um soldado para as colónias”, “a
terra a quem a trabalha”, “fascismo nunca mais, 25 de Abril sempre”
eram das mais gritadas pelos portugueses.


Prisão de Caxias

A 26 de abril, os presos políticos são libertados da prisão de
Caxias, em Oeiras. Uma multidão espera-os cá fora. As imagens desses
momentos ficaram para a posteridade. Ter opinião e expressá-la em
liberdade deixou-se de ser crime. Mais tarde, foram também
libertados os presos políticos que estavam em Peniche e no Tarrafal,
ilha de Santiago, Cabo Verde.


Reedição de texto publicado inicialmente no Jornal de Negócios a 24 de abril de 2014

Fotografia Alexandra Silva, Arquivo Histórico da Presidência da República, Lusa, Mariline Alves, Pexels,  Direitos Reservados | Pesquisa de Imagem Ana Sofia Pinto | Edição de Imagem Bernardo Franco | Web Design David Vinagre | Coordenação Catarina Cruz

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