O Tarrafal funcionou, “numa primeira fase, de 1936 a 1954, como cárcere para presos políticos de Portugal; e mais tarde, de 1962 a 1974, com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, como penitenciária de nacionalistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Ao todo estiveram aí encarcerados mais de 340 antifascistas portugueses e cerca de 230 nacionalistas africanos (106 angolanos, 100 guineenses e 20 cabo-verdianos)”. Entre os reclusos houve ainda uma dezena de estrangeiros, “arrebanhados em rusgas em Portugal”. As vítimas mortais, na contabilidade de José Vicente Lopes, foram 37.
Colónia penal criada em 1936, o Tarrafal ficou conhecido como “campo da morte lenta”, nome plenamente justificado pelas terríveis condições – de clima, saúde, alimentação e regime carcerário, marcado pela extrema violência. “Se Hitler tivera Auschwitz e Dachau, Salazar tinha, salvo o exagero da comparação, o Tarrafal.” Dos 340 portugueses (comunistas, anarquistas, republicanos), morreram 34 – exatamente 10 por cento, um valor que fala por si. Os nomes mais frequentemente referidos são os de Bento Gonçalves e Mário Castelhano, os líderes do PCP e da CGT, a central anarcossindicalista. A historiografia oficial contabiliza 32 mortos, mas o autor contou 33 campas no cemitério do Tarrafal, incluindo a de Artur Oliveira, um “rachado”, designação dada aos traidores. O outro morto foi um guarda prisional angolano, vítima de tétano. A maioria, porém, sucumbiu à biliosa, ao paludismo e à perniciosa.
Após a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, a pressão internacional obrigou Salazar a encerrar o campo em 1954. Viria a ser reaberto por diploma de 1961. A respetiva portaria foi assinada pelo então ministro do Ultramar, Adriano Moreira, e recebeu a designação oficial de Campo de Trabalho de Chão Bom, com capacidade para 500 reclusos. Foi a guerra colonial que ditou a abertura deste e de outros campos: Missombo e São Nicolau, em Angola, Machava e Madalane, em Moçambique, e ilha das Galinhas, na Guiné.