O trabalhista Sadiq Khan assegurou um terceiro mandato como presidente da Câmara de Londres, derrotando a adversária conservadora Susan Hall, numa vitória histórica, uma vez que a capital britânica nunca foi liderada pela mesma pessoa três mandatos seguidos. E a maioria nem foi curta: Khan obteve 1.088.000 votos (43.7%) uma diferença de mais de um quarto de milhão de votos para os 812.000 votos (32.6%) de Hall.

Numa altura em que os protestos pró-Palestina, uma ocorrência quase semanal na capital britânica, têm sido alvo de grandes críticas por parte dos conservadores, e acrescentando a esse ponto de convulsão a teimosa prevalência dos números de crime com armas brancas, os analistas não esperavam uma vitória tão folgada de Khan, chegou até a falar-se de uma reviravolta de última hora para os conservadores. Mas Khan, de 53 anos, aumentou a sua margem de diferença para os conservadores em quase todos os bairros, como detalham os mapas do “The Telegraph”.

A campanha não foi combatida em solo amigável. Khan disse que Hall foi a “pessoa mais perigosa” contra a qual ele já se tinha batido politicamente, devido às publicações da conservadora nas redes sociais, que os apoiantes de Khan consideraram extremistas e promotoras do ódio. Hall considerou este comentário “ultrajante”, mas garantiu ter “aprendido com os erros” após um vídeo de campanha dos conservadores para demonstrar o que dizem ser a mão leve de Khan contra os criminosos ter sido retirado das redes sociais por conter imagens não da violência em Londres, mas sim de uma espécie de correria ou debandada que se passou no metro de Nova Iorque.

Uma outra linha que dividiu os candidatos — e divide atualmente os londrinos e os que precisam ou preferem de entrar em Londres de carro — foi a controversa expansão da zona de emissões de carbono ultracontroladas (ULEZ) por parte de Khan, que Hall tinha dito que iria eliminar. A taxa, aplicada aos condutores, visa reduzir a entrada de veículos em certas zonas de Londres.

Khan tinha prometido congelar as tarifas dos Transportes de Londres (TfL) até, pelo menos, 2025, e construir 40.000 novas habitações municipais até ao final da década, tal como mais parque habitacional sujeito a “controlo de rendas”. Já Hall prometia reformar a Polícia Metropolitana e “controlar” a criminalidade, investindo 200 milhões de libras nas forças policiais.

Avisos da esquerda para Starmer

O Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, que, sem surpresas, apoiou Khan, está numa maré de vitórias que pode mesmo manter-se até às eleições gerais, a julgar pelas sondagens que dão uma maioria ao partido, ainda que não absoluta.

A ala mais à esquerda dos trabalhistas não deixou passar a oportunidade para fazer notar a Starmer que as políticas “arrojadas” de Khan são o caminho mais direto para bons resultados eleitorais, uma clara crítica ao posicionamento mais centrista de Starmer. “A vitória de Sadiq demonstra que as políticas trabalhistas arrojadas são um trunfo eleitoral e não um obstáculo. Além disso, o seu apoio de princípio a Gaza e o seu apelo à suspensão da venda de armas a Israel foram claramente significativos. No meio das perdas do Partido Trabalhista noutras áreas urbanas, a liderança de Starmer deve tomar nota” do trabalho de Khan, disse o grupo Momentum, que representa essa tal facção mais à esquerda, citado pela “Sky News”.

Já o próprio Khan disse estar “profundamente grato” aos londrinos e prometeu que vai servir “todos os habitantes”. “Esta é a primeira vez na história da Câmara Municipal de Londres que um candidato em funções aumenta a sua margem de vitória e é a maior margem de vitória de sempre numa eleição para presidente da câmara. É um voto a favor da construção de mais casas para habitação social, um voto pela distribuição de refeições escolares gratuitas e por uma Londres mais verde”, disse o autarca, muçulmano praticante.

Eleições locais atingem conservadores

Este resultado surge no fim de uma semana dura para os conservadores do primeiro-ministro Rishi Sunak, que saiu derrotado nas eleições autárquicas.

O partido perdeu mais de 470 vereadores, pouco menos de metade dos lugares que defendia. No total, o partido elegeu apenas 508 assentos locais nestas eleições, menos do que os 520 lugares conquistados pelos liberais-democratas.

Os conservadores perderam o controlo de 10 concelhos, incluindo Basildon, em Essex, que ganhou um estatuto icónico para os conservadores durante o mandato de Margaret Thatcher, quando os conservadores conseguiram conquistar esta zona, antes disso considerada profundamente trabalhista.

Já os trabalhistas podem considerar-se vencedores, principalmente depois de terem conquistado Blackpool South com uma diferença de 26%, isto numa eleição intercalar, a contar para os assentos parlamentares, não locais. “Esta é efetivamente a última paragem na viagem para as eleições gerais e estou muito satisfeito por poder mostrar que estamos a fazer progressos, que ganhámos a confiança dos eleitores e que estamos a avançar para essas eleições gerais”, disse Starmer.

Ao contrário do que parece ter acontecido em Londres, onde possivelmente o voto muçulmano foi quase todo para Sadiq Khan pela sua posição de aceitação dos protestos pró-Palestina, os trabalhistas perderam alguma confiança dos votantes muçulmanos noutros círculos eleitorais. Em 58 locais analisados pela BBC, onde mais de 1 em cada 5 eleitores dizem identificar-se como muçulmanos, o partido de Khan e Starmer ficou 21% abaixo do registado em 2021, a última vez que houve eleições locais generalizadas (no Reino Unido as eleições locais não acontecem todas obrigatoriamente ao mesmo tempo).

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