Em seis anos de vida, a Casa do Impacto impulsionou mais de 500 startups. A iniciativa, idealizada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, pretende criar um impacto social e positivo, alinhado com os objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). Agora, a Casa do Impacto foi distinguida por um ranking elaborado pelo jornal ‘The Financial Times’ em colaboração com a Statistica, uma empresa especializada em estatísticas e dados de mercado. É a única da lista dedicada, exclusivamente, ao empreendedorismo de impacto.

“Vejo o impacto como um sinal de esperança”, admite Inês Sequeira, fundadora e diretora da Casa do Impacto, em entrevista ao Expresso. Neste hub “não entra nenhuma startup, nem nenhum empreendedor que não se proponha a resolver um problema social ou ambiental”. O objetivo é o de criar soluções inovadoras para as questões que a sociedade enfrenta. “Podem não ser os próximos unicórnios [startup com uma avaliação de, ou superior a, mil milhões de dólares], muitas delas não serão, com certeza, mas o valor que podem acrescentar à sociedade é muito maior”, defende.

Para impulsionar estas ideias inovadoras, a Casa do Impacto presta apoio em três eixos: incubação, aceleração e investimento. Relativamente ao primeiro, atualmente estão 72 startups incubadas, que contam com um programa de mentoria numa lógica intergeracional. Trata-se de juntar “o empreendedor que já falhou e que já criou várias coisas e que agora é bem sucedido” com aqueles que estão agora a começar a jornada. Nos programas de aceleração, capacita-se o empreendedor para tornar a sua ideia num modelo de negócio sustentável, muitos projetos entram neste eixo numa fase inicial. Por fim, o investimento trata-se de um programa em que são investidos 500 mil euros por ano em startups, consoante as metas acordadas sejam atingidas.

Inês Sequeira, diretora da Casa do Impacto acredita que o fundo de investimento vai colmatar lacunas

Nuno Botelho

Muitas das soluções idealizadas na Casa do Impacto podem tornar-se políticas públicas, por isso, a iniciativa tem colaborado cada vez mais com empresas e entidades públicas. “Se nós temos uma solução inovadora que comprovadamente cria impactos muito positivos e melhora a qualidade de vida em áreas, por exemplo, como o envelhecimento ativo ou como a inclusão social, podem ser soluções para incorporar mesmo dentro da administração pública, porque muitos organismos públicos estão a tentar resolver estes mesmos problemas”, explica Inês Sequeira.

Um dos principais problemas para colocar em prática as ideias destas startups de impacto é a capacitação. “O empreendedorismo e a cultura do risco não estão no ADN português, é por isso que este ecossistema não se desenvolveu ao mesmo ritmo que noutros países”, começa por explicar a fundadora do projeto, que acrescenta que Portugal também não tem desenvolvido um empreendedorismo ligado à área social. “Há muito talento em Portugal e eu acredito que tenho aqui na Casa do Impacto muitos empreendedores altamente talentosos, mas acho que ainda falta um ecossistema de suporte e de apoio verdadeiramente forte e estratégico”, admite, ao lembrar que “é mais fácil apostar em startups totalmente tecnológicas, que têm uma capacidade de crescimento muito rápida”.

Com a ambição de posicionar a Casa de Impacto como uma referência para o ecossistema de impacto europeu, a distinção na lista do FT e da Statistica trouxe uma sensação de reconhecimento. “Somos os únicos [no ranking] que tem no seu ADN e como propósito exclusivo o impacto”, diz Inês Sequeira, que afirma: “não somos uma simples incubadora”. É uma distinção que orgulha a Casa do Impacto, mas, enquanto empreendedora, a fundadora confessa que quer atingir mais. “A ambição é a de que não sejamos os únicos e que cada vez mais haja hubs de impacto no país e no mundo inteiro, que sejam referências”, afirma.

Um dos sonhos é o de tornar o projeto num complemento às universidades. “As universidades têm um lado mais teórico e nós aqui conseguimos focar-nos mais nas competências práticas de que estes jovens precisam para desenvolverem negócios de impacto”, esclarece a diretora, com 13 anos de experiência na área do empreendedorismo.

Inês Sequeira afirma que se sente motivada por ver jovens a acreditarem que são capazes de mudar o mundo e acredita que as novas gerações têm maior consciência dos problemas sociais e ambientais. “As coisas estão a mudar, mas não é o ritmo acelerado que eu gostaria”, confessa ao explicar que é preciso, a longo prazo, tornar todos os negócios sustentáveis económica, social e ambientalmente.

“Isto é uma maratona, devemos dar passos sustentáveis e realistas para realmente conseguirmos criar projetos e startups que sejam sólidas o suficiente e que tenham impactos comprovados para poder escalar para outros países e para outros mercados”, diz. A fundadora da Casa do Impacto defende ainda que Portugal, pela sua dimensão pequena, é excelente para testar soluções que podem ser, posteriormente, exportadas para outros países.

Desde 2018, a Casa do Impacto apoiou startups em diversas áreas. Na saúde, por exemplo, a Glooma propõe-se revolucionar a forma como as mulheres monitorizam a sua saúde mamária através de uma luva portátil, que permite a qualquer mulher realizar um auto-exame e detetar precocemente sinais de alerta do cancro mamário. Esta é uma das dez mais promissoras startups em Portugal, segundo o site especializado em startups na Europa, EU-Startups.

Na área ambiental, o projeto SeaTheFuture, dedicado à proteção e restauro dos oceanos, criou uma plataforma que une potenciais doadores a cientistas, ativistas ou voluntários que realizam trabalho em prol dos oceanos. Recentemente, conseguiram garantir o financiamento para uma campanha de apoio à conservação de tartarugas do programa Tatô, em São Tomé.

Na área social, a ubbu dispõe de uma ferramenta de aprendizagem que ensina informática e programação a crianças entre os seis e os 12 anos. Está disponível em mais de 20 países e pode ser usada na sala de aula ou em casa. Este projeto foi, em 2023, distinguido pela União Europeia ao ter vencido o prémio European Digital Skills na categoria Empowering Youth in Digital.

A ubbu é uma plataforma de ensino de Ciências da Computação que tem um currículo com aulas semanais preparadas para as crianças do 1º ao 6º ano de escolaridade

D.R.

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