A caixa de sapatos é um clássico e o silêncio, um imperativo. Dos milhares de militares que rumaram a África conscientes de que podiam matar e morrer, não se sabe quantos eram pais. Muitos. Deixaram em Portugal mulheres e filhos. Num tempo em que as cartas eram a principal forma de construir a ponte entre quem vai e quem fica, a correspondência tornou-se a forma de exercer uma paternidade distante. Registos de um tempo de sofrimento. Durante décadas ficaram fechadas em caixas, no fundo dos armários, afastadas de conversas que nem pais nem filhos queriam ter. Até que chegaram os netos, com uma curiosidade sem traumas. Há dois anos, duas investigadoras começaram a desatar os segredos contidos na volta do correio, com o objetivo de preservar a memória do país e abrir um debate que não se fez nem mesmo entre as quatro paredes das famílias.

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