As ilhas da Boavista e de Santa Luzia são as mais expostas ao lixo e ao plástico em Cabo Verde. A conclusão é de um estudo da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que lança algumas preocupações na sobrevivência da tartaruga comum neste arquipélago.

Cabo Verde é conhecido como um dos locais mais importantes de nidificação da espécie. Ao nascer do sol, descobrem-se os rastos das tartarugas que vieram pôr os ovos durante a noite, numa espécie de obra de arte vista dos céus.

Mais ou menos 50 dias depois, a vida ganha terreno à casca de ovo e começa a romper pela areia em direção ao mar. Cada fêmea coloca, em média, 80 ovos.

Mas pela frente, as tartarugas terão de literalmente passar muitas vezes por cima de lixo: redes de pesca, cordas, madeira processada, recipientes, garrafas, armadilhas de polvo.

84% dos materiais encontrados nas praias do arquipélago de Cabo Verde pelos investigadores portugueses é composto por plástico. Muito resulta da atividade piscatória, mas também chega às ilhas muito à custa da ação das correntes marítimas.

Diana Guedes, aluna de doutoramento, lembra que o arquipélago é atravessado pelo chamado “Giro Atlântico”, que se movimenta no sentido dos ponteiros do relógio e que atinge mais as ilhas do Norte.

Os investigadores estudaram sete das 10 ilhas do arquipélago com o apoio local da Organização Não Governamental BIOS-CV e, embora as conclusões ainda sejam preliminares, pode avançar-se já que as ilhas mais afetadas pelo lixo são a desabitada Santa Luzia e a ilha da Boavista, onde se encontram mais de 40 por cento do total de ninhos de Cabo Verde.

Já se conhecem muitos estudos sobre a presença do plástico nos oceanos e como, pela ingestão ou por ficaram presos, compromete a vida dos animais marinhos, nomeadamente das tartarugas. Este projeto debruça-se mais sobre a presença de plástico nos areais. E concluiu-se que, por um lado, constitui uma óbvia barreira física para as crias que as deixa mais tempo sujeitas aos predadores enquanto fazem o caminho até ao mar, por outro lado, ficou demonstrado que os plásticos libertam químicos para o areal que também são prejudiciais para os animais.

O mapa das zonas mais vulneráveis está a ser desenhado pelos investigadores portugueses que começaram este projeto em 2021. A versão final deverá ficar concluída no próximo ano.

Esta investigação abre outras janelas também sobre, por exemplo, a influência do lixo na determinação do sexo da tartaruga. E é este caminho que Diana Guedes quer trilhar a seguir.

Já se sabe que as fêmeas nascem nas areias mais quentes e há estudos que indicam que o plástico pode aumentar a temperatura da areia em meio grau. A juntar a estes dois fatores, sabe-se que, nos últimos tempos, 90% das tartarugas que nascem em Cabo Verde são do sexo feminino, o que pode criar um desequilíbrio e colocar em causa a sobrevivência da espécie.

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