“É tempo de fechar um ciclo de quase dez anos de funções executivas em Lisboa e passar o testemunho.” Foi desta forma que Pedro Costa, autarca de Campo de Ourique e filho do antigo primeiro-ministro António Costa, anunciou, na terça-feira, que abandonaria o cargo.
Depois de Pedro Costa ter acusado a Câmara Municipal de Lisboa (CML) de ter um “executivo fechado” que se foca “na propaganda”, ao invés de “nos problemas da cidade”, o PSD de Lisboa considerou que a renúncia do responsável representa “o reconhecimento da sua incapacidade para resolver os problemas” da comunidade.
Num tom de despedida, Pedro Costa assegurou que o seu sucessor na junta de Campo de Ourique, Hugo Vieira da Silva, terá uma “liderança renovada na sua energia, na sua ambição e na sua criatividade”.
“Sei que a minha saída dará a Campo de Ourique, neste projeto que é muito mais do que eu, uma nova energia e, espero, uma maior disponibilidade do executivo municipal para procurar pontos de contacto e realizar investimentos necessários ao nosso bairro. Desejo a maior das sortes, ao meu sucessor, Hugo Vieira da Silva, que não duvido terá o engenho e a arte de garantir modelos eficazes para tornar esta agenda comum que construímos uma realidade e projetar Campo de Ourique para o futuro”, afirmou, numa carta a que a agência Lusa teve acesso.
Sem nunca mencionar diretamente o presidente da CML, Carlos Moedas, o socialista acusou ainda a atual liderança do município (PSD-CDS/PP) de ter o seu “foco na propaganda”, condenando a cidade ao “marasmo”.
“O foco na propaganda não resolverá nenhum problema da cidade, por muito que permita escondê-los, limita-se a condenar Lisboa ao marasmo, que virá nos próximos anos por falta de planeamento”, criticou.
E sublinhou: “Lisboa merece uma câmara ambiciosa, uma câmara que aspira mais e melhor cidade, não um executivo fechado, apenas na procura de uma cidade barata para quem mais pode, fechado na sua competência legal mínima, fazendo o menos possível, com a menor participação de todos os eleitos.”
“Demitiu-se da confiança que lhe foi depositada pelos seus fregueses”
Por seu lado, o PSD de Lisboa disse ter sido surpreendido com a decisão do autarca, “que se demitiu da confiança que lhe foi depositada pelos seus fregueses”.
“Esta demissão é, acima de tudo, o reconhecimento da sua incapacidade para resolver os problemas da Comunidade de Campo de Ourique já que, desde que assumiu funções no final do mandato passado, não conseguiu liderar as melhores soluções para aquele território”, apontou numa nota enviada ao Notícias ao Minuto.
Os sociais-democratas, que integram o executivo de Carlos Moedas, atiraram ainda que “não deixa de ser curioso que esta demissão ocorra a seguir à Assembleia de Freguesia onde foram apresentadas as piores contas dos últimos dez anos”, o que, na sua ótica, dá conta de “um sinal do desastre da sua gestão financeira, onde o passivo da Junta de Freguesia mais que duplicou em apenas um ano e que mereceu o repúdio nessa mesma sessão pelos eleitos do PSD”.
“Para Pedro Costa, a sua demissão é culpa de terceiros, sem compreender que o compromisso de um presidente de junta é, acima de tudo, para com a comunidade que serve e com os desafios que impactam na vida das pessoas que vivem nessa mesma comunidade”, lê-se.
O PSD de Lisboa assegurou também que “não desiste de Campo de Ourique”, tendo garantido que Carlos Moedas “continuará a liderar a cidade com as pessoas e com todos os presidentes de junta, independentemente dos partidos que representam, como tem feito até agora”.
O PSD de Lisboa considerou que o presidente demissionário da Junta de Freguesia de Campo de Ourique desistiu das pessoas.
Notícias ao Minuto com Lusa | 19:55 – 30/04/2024
“Uma decisão pessoal e política”, garante Pedro Costa
Pedro Costa, membro da Comissão Política Nacional do Partido Socialista (PS), desempenhava o cargo de presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique desde 2020, tendo sido reconduzido nas eleições autárquicas de 2021.
Apoiante da candidatura de Pedro Nuno Santos à liderança do PS em dezembro passado, e um dos principais elementos no chamado “núcleo duro” da campanha socialista nas últimas eleições legislativas, Pedro Costa assegurou à Lusa que a renuncia ao cargo de presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique se deve à “necessidade de fechar um ciclo e passar o testemunho”.
Pedro Costa garantiu ainda que se trata de “uma decisão pessoal e política”, que resulta do “desgaste” de 10 anos de exercício autárquico, com “um mandato difícil”, inclusive com a pandemia de Covid-19 e com “a dificuldade no acesso à informação que têm hoje as juntas de freguesia junto da câmara”, sob presidência de Carlos Moedas.
Sobre as próximas eleições autárquicas, daqui a cerca de um ano e meio, o socialista assegurou que não será candidato.
“Não sei sequer se algum dia terei vontade de voltar à política”, confessou, explicando que “o fecho de um ciclo exige sempre a abertura de um ciclo de reflexão”. Reforçou, contudo, que se mantém na comissão política do PS e está “disponível para ser dirigente do partido”.
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