“Mike, se fizeres isto pode a ser a morte da tua carreira política”, disse Donald Trump a Mike Pence, por telefone, poucas horas antes de o então vice-presidente dos Estados Unidos comunicar ao país que não iria impedir a certificação das eleições presidenciais de 2020 – o que acabaria por levar milhares de apoiantes de Trump a invadir o Capitólio poucos momentos depois.

A frase é revelada esta quinta-feira pelo jornal “New York Times”, que cita a transcrição de uma entrevista feita a um funcionário da Casa Branca – no âmbito da investigação aos acontecimentos de 6 de janeiro de 2021 – e que estava com Trump na Sala Oval durante o telefonema.

Segundo o funcionário, Trump usou um tom “desapontado e frustrado” para coagir o seu vice-presidente a não confirmar a tomada de posse de Joe Biden. “Faz o que está certo”, terá insistido o novamente candidato republicano às presidenciais de novembro deste ano.

JIM VONDRUSKA/Reuters

Depois da conversa entre ambos e do comunicado de Pence a confirmar a recusa, Trump publicou no Twitter a seguinte frase: “Pence não teve a coragem de fazer o que deveria ter sido feito para proteger o nosso país e a Constituição”. Na altura, o ex-presidente tinha cerca de 80 milhões de seguidores

“Por muito irresponsável que tenha sido o tweet do Presidente, eu não tinha tempo para aquilo. Havia desordeiros a destruir o Capitólio… o Presidente tinha decidido ser parte do problema, eu estava determinado a ser parte da solução”, contou Pence na sua biografia, “So Help Me God”. “Por isso, ignorei o tweet e voltei ao trabalho”, escreveu.

Apesar de nunca ter revelado detalhes sobre esse telefonema com Trump, Pence já referiu várias vezes que foi pressionado pelo empresário com o objetivo de não confirmar a vitória de Joe Biden. Numa dessas conversas, Trump terá criticado Pence por ser “demasiado honesto”. E avisou-o: “milhares e milhares de pessoas vão odiar-te.”

Mike Johnson, recém-eleito líder da Câmara dos Representantes dos EUA

ELIZABETH FRANTZ/REUTERS

No final de fevereiro, um tribunal do estado do Illinois confirmou que Trump não poderia participar nas primárias republicanas desse estado devido ao seu papel nos ataques de 6 de janeiro. Citando a 14ª emenda da Constituição, que afasta de cargos públicos cidadãos que juram proteger a nação e depois participam “em atos de rebelião”, o Colorado e o Maine também retiraram o nome de Trump dos respectivos boletins.

No entanto, o Supremo Tribunal dos EUA reverteu a decisão do Colorado há umas semanas. “Concluímos que os estados podem desqualificar as pessoas que ocupam ou tentam ocupar cargos públicos. Mas os estados não têm poder, nos termos da Constituição, para aplicar a Secção 3 [da Constituição] no que diz respeito a cargos federais, especialmente a presidência”, explicaram os juízes do tribunal em Washington

Ex-Presidente norte-americano Donald Trump

Andrew Kelly/Reuters

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