Mais de duas mil pessoas já foram presas nos protestos pró-Palestina em universidades americanas. Os confrontos com a polícia têm aumentado à medida que as autoridades — às vezes a pedido das próprias instituições de Ensino Superior — ordenam aos manifestantes que removam os acampamentos erguidos nos campus. O assunto está também a ser um foco de tensão entre democratas e republicanos, a meses das eleições presidenciais que voltam a opor Joe Biden a Donald Trump.

Quais os motivos dos protestos?

As manifestações por uma Palestina livre aumentaram desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, há sete meses, que fez mais de 24 mil mortos na Faixa de Gaza e mergulhou o enclave numa grave crise humanitária.

Apesar da ajuda que têm prestado a Gaza, os Estados Unidos são um aliado conhecido de Israel. Ainda na semana passada o Senado aprovou um projeto de lei que prevê cerca de 24,3 mil milhões de euros para Israel e 9,4 mil milhões em assistência humanitária a Gaza. Há poucas semanas, os EUA vetaram a adesão plena da Palestina à ONU, que seria o primeiro passo para ser oficialmente reconhecida como um Estado.

O descontentamento face à posição de Washington a favor de Telavive alastrou-se ao seio universitário, com os manifestantes a apelarem às instituições para deixarem de fazer negócios com Israel e se desvincularem de empresas que apoiam o governo de Benjamin Netanyahu.

As manifestações têm sido violentas?

Embora os organizadores das manifestações se considerem um movimento pacífico para defender os direitos palestinianos e opor-se à agressão israelita, alguns foram apanhados a fazer comentários antissemitas ou ameaças violentas contra judeus.

Os confrontos com a polícia têm aumentado nos últimos dias. Só na noite desta quarta-feira e na manhã de quinta foram detidos mais de 300 estudantes, a esmagadora maioria (mais de 200) na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e mais de 90 no Dartmouth College, em New Hampshire.

Na UCLA, dezenas de polícias com equipamento antimotim avançaram sobre uma multidão de manifestantes. Os agentes removeram barricadas e começaram a desmantelar acampamentos fortificados. Centenas de pessoas, entre alunos e ativistas, desafiaram a ordem de dispersão e formaram correntes humanas, enquanto a polícia disparava granadas de atordoamento sobre eles.

Equipamento de choque, capacetes, máscaras de gás e braçadeiras foram utilizados durante as detenções. Alguns dos manifestantes ajoelharam-se no chão, com os braços amarrados nas costas enquanto eram aprisionados.

A Universidade de Columbia, em Nova Iorque, foi palco de outro evento violento, na noite de terça-feira. A própria instituição chamou as autoridades para conter a agitação: a polícia acabou por invadir um edifício ocupado, o Hamilton Hall, e interromper um protesto que tinha paralisado as aulas. Entre 30 a 40 estudantes foram detidos.

Desde o ataque do Hamas, a 7 de outubro, ocorreram mais de mil incidentes antissemitas nas universidades americanas, de acordo com a Liga Antidifamação, uma organização não-governamental judaica sediada em Nova Iorque. Trata-se de um aumento de 700% face ao mesmo período do ano anterior.

Como se posiciona Biden?

O Presidente norte-americano quebrou o silêncio após o incidente na UCLA. “Destruir propriedades não é um protesto pacífico. É contra a lei. Vandalismo, invasão de propriedade, partir janelas, encerrar os campus, forçar o cancelamento de aulas e de formaturas — nada disto é um protesto pacífico. Existe o direito de protestar, não o de causar o caos”, advertiu Joe Biden nesta quinta-feira, a partir da Casa Branca.

Depois de ter sido criticado por vários congressistas republicanos por ter demorado a pronunciar-se sobre o tema, Biden lembrou que “este não é um momento para política, é um momento para clareza” e descartou que as manifestações fossem utilizadas como uma arma de campanha eleitoral.

Apesar da pressão dos universitários, o chefe de Estado norte-americano deu a entender que não vai mudar a abordagem face a Israel e à guerra na Faixa de Gaza. Biden vai tentar conquistar um segundo mandato nas presidenciais de novembro, e o voto jovem é um pilar importante do seu eleitorado.

E Trump o que diz?

Donald Trump, que será à partida o principal rival de Biden, referiu-se aos manifestantes como “lunáticos da esquerda radical” que “têm de ser travados”. Numa entrevista à televisão Fox News na quarta-feira, o republicano aproveitou para elogiar a atuação da polícia: “Fizeram um bom trabalho em Columbia e na UCLA. Estou muito orgulhoso”.

Os republicanos têm questionado a forma como a Casa Branca tem “permitido” a proliferação dos protestos pró-Palestina, que os conservadores consideram que estão ao serviço de causas antissemitas.

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