A decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa, a par da necessidade de integrar os imigrantes que estão a chegar a Portugal para trabalhar, suprindo faltas de mão-de-obra, são temas que devem ser prioritários para o próximo Governo, foi destacado no congresso da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), que começou esta quarta-feira no Funchal e decorre até 23 de fevereiro, sob o tema “Horizonte 2030”.

Bernardo Trindade, presidente da AHP, sublinhou a “urgência para uma decisão de fazermos um aeroporto”, lembrando que, segundo dados da ANA, o aeroporto da Portela “recusou no ano passado voos que corresponderam a um milhão e 300 mil lugares de avião, por falta de slots”.

“Lamentamos que a comissão técnica independente não tenha tratado com dignidade respostas a curto, médio prazo, que Portugal precisa”, destacou o presidente da associação hoteleira, frisando que o tema do aeroporto é “uma questão incontornável” para um novo Governo, sendo de momento a ” condicionante maior que temos à procura pelo país”.

O tema da mão-de-obra imigrante deverá ser outra prioridade para um próximo Governo, envolvendo temas como habitação, transportes ou qualificações, segundo o presidente da AHP. “O nosso futuro coletivo vai ser feito com estas pessoas”, sublinhou Bernardo Trindade, salientando que entre 2015 e 2023 o peso dos trabalhadores imigrantes subiu no país de 3% para 15%. “Temos hoje 720 mil imigrantes a trabalhar no país, 115 mil só no turismo, que dão um saldo de 1500 milhões de euros à Segurança Social, e um novo Governo tem de olhar a questão da imigração e a integração destas pessoas”.

Destacando as receitas de 25 mil milhões de euros que o sector do turismo atingiu em 2023, segundo dados do Banco de Portugal, Bernardo Trindade advertiu que “estamos numa fase crítica: a crescer do ponto de vista de receitas, mas temos de garantir que a qualidade de serviço que oferecemos é compatível com as exigências dos clientes que nos visitam”.

Promessas sobre o aeroporto

Os “resultados extraordinários” do turismo em 2023, em que o país atingiu 30 milhões de hóspedes e 77 milhões de dormidas, foram realçados por Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP).

“Se eu pudesse ‘comprar’ os resultados de 2023 para 2024, comprava já”, destacou o presidente da CTP, lembrando que o ano é marcado por “incertezas” mundiais, decorrentes dos efeitos de duas guerras, a que se soma o facto de Portugal estar em período eleitoral, na sequência da queda do Governo.

Calheiros disse trazer “boas notícias” em relação ao aeroporto ou à situação da TAP, citando recentes almoços-debate promovidos pela AHP com os líderes dos dois principais partidos que se perfilam para um novo Governo, PS e PSD, respetivamente Luis Montenegro e Pedro Nuno Santos.

“Ambos disseram que vão dar a maior importância ao turismo e que a decisão sobre o aeroporto será a primeira medida do seu Governo. Apeteceu-me perguntar: qual?, referiu Francisco Calheiros.

Luis Montenegro e Pedro Nuno Santos também se pronunciaram sobre a TAP nos almoços-debate promovidos pela CTP, e segundo destacou Francisco Calheiros no congresso da AHP, “o PS considera passar a privados parte do capital da companhia, o PSD vê a privatização da TAP a 100%”.

Crise política à margem do congresso dos hoteleiros

O congresso da associação de hotéis decorre na Madeira, num momento de crise política, tema que foi deixado à margem e não foi sequer referido ao longo do dia de trabalhos.

Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, discursou na abertura do congresso da AHP, pondo o foco nos resultados turísticos crescentes na Madeira e na necessidade de “concertação entre entidades públicas e privadas” no objetivo de “sermos um destino turístico de excelência” – mas sem proferir uma palavra sobre os recentes acontecimentos que abalaram a região a nível político.

Questionado, em conferência de imprensa prévia, sobre a realização do congresso da hotelaria na Madeira, numa altura em que empresários do sector estão na mira de investigação do Ministério Público sob suspeitas de corrupção, o presidente da AHP salientou que “a decisão da semana passada do juiz de instrução relativamente aos envolvidos foi uma boa notícia para o nosso congresso”.

Bernardo Trindade referiu-se ao volteface registado com a decisão do juiz de instrução, Jorge Bernardes de Melo, em libertar os três arguidos que tinham sido detidos no âmbito da investigação de corrupção, por concluir não existirem indícios, “e muito menos fortes” da prática de crimes apontada pelo Ministério Público (tráfico de influência ou branqueamento de capitais, entre outros). Dois empresários (Avelino Farinha ) e o ex-presidente da câmara do Funchal (Pedro Calado) foram os arguidos que puderam ser libertos após três semanas de detenção, contrariando assim o intento do processo decretado pelo Ministério Público.

O congresso da hotelaria está a ser concorrido, contando com 500 participantes, e “sentimos nos últimos dias uma confiança reforçada, o que nos deu a certeza que trazer o congresso da AHP à Madeira foi uma boa decisão”, concluiu o presidente da associação hoteleira, frisando tratar-se da “mais antiga região de turismo no país, é uma região que tem a cultura de turismo e de serviço no seu ADN”.

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