Os líderes do Hamas aceitaram esta segunda-feira um acordo de cessar-fogo para travar temporariamente a ofensiva israelita sobre a Faixa de Gaza. O anúncio do grupo foi seguido por um outro comunicado, desta feita do governo israelita, que negou a existência de uma negociação bem sucedida. Ao mesmo tempo, vão-se multiplicando os ataques sobre Rafah, que marcam o início da prometida e contestada ação no sul de Gaza.

Ismail Haniyeh, líder político do grupo palestiniano, afirmou que o Hamas concordou com os termos propostos pelos estados árabes. Segundo a Associated Press, o acordo surgiu após uma conversa telefónica com o primeiro-ministro do Catar e o ministro dos Serviços de Informação egípcio.

O Catar e o Egito têm sido os estados mais envolvidos nos esforços diplomáticos para uma série de negociações sobre a Faixa de Gaza, desde a tentativa de um cessar-fogo à entrada de ajuda humanitária no enclave palestiniano.

No entanto, apesar do anúncio do Hamas, um governante israelita disse que o grupo aceitou uma versão “suave” do acordo, uma versão que Israel não aceita. “Trata-se de um truque para fazer parecer que é Israel o lado que recusa um acordo”, avançou o oficial israelita à agência Reuters, sob a condição de anonimato.

Logo a seguir, o próprio exército israelita veio garantir que iria continuar a sua operação na Faixa de Gaza, apesar de o Hamas ter declarado estar disposto a fazer um acordo de cessar-fogo. Citado pelo jornal ‘The Guardian’, o porta-voz das forças israelitas, Daniel Hagari, disse que Israel iria “explorar tudo o que ouvir” relativamente a uma trégua, mas reiterou que vai exercer aquilo que considera ser um direito à autodefesa.

Outros órgãos de comunicação israelitas também se mostraram céticos na concretização de um cessar-fogo; o site N12 News, um órgão israelita, noticiou que vários dirigentes israelitas consideram a proposta de cessar-fogo “ambiciosa” e inaceitável para Israel.

EUA “não apoiam uma operação em Rafah”

Os Estados Unidos da América mostraram-se mais esperançosos após a declaração do Hamas, e pediram que as forças israelitas parassem os bombardeamentos sobre a cidade de Rafah enquanto decorrem as negociações. Numa conferência de imprensa, o porta-voz do Departamento de Estado confirmou que o Hamas “ofereceu uma resposta” e que os norte-americanos estavam a “rever a resposta e a discutir com os parceiros na região”.

“Acreditamos que um acordo para a libertação de reféns é do interesse do povo israelita e é do interesse do povo palestiniano”, afirmou Matthew Miller, que repetiu que os EUA não apoiam a ofensiva terrestre de Israel em Rafah, por considerarem que iriam aumentar “dramaticamente” o sofrimento dos palestinianos na região.

“Não podemos apoiar uma operação em Rafah como ela está atualmente prevista”, sublinhou Miller. A verdade é que, com ou sem aviso, a ofensiva seguiu em frente e têm-se registado vários bombardeamentos e explosões na cidade.

As forças defensivas de Israel (IDF, na sigla em inglês) também confirmaram o início da operação em Rafah, vincando, numa publicação na rede social X (antigo Twitter), que “estão a lebar a cabo ataques premeditados contra alvos terroristas do Hamas a este de Rafah, no sul de Gaza”.

O anúncio de Ismail Haniyeh surge poucas horas depois de Israel começar a atacar mais agressivamente a cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, onde estão abrigadas quase dois milhões de pessoas – que para lá se foram dirigindo, por ordens de Israel, à medida que a ofensiva foi avançando de norte para sul. Agora, Benjamin Netanyahu declarou a evacuação de Rafah, mas muitas organizações não-governamentais alertam que não existem espaços seguros na Faixa de Gaza, livres de bombardeamentos e ataques, e que os milhões de civis têm receio de se dirigirem a locais apontados pelo exército israelita.

No passado fim de semana, acreditava-se na possibilidade de ser acordada uma trégua entre o Hamas e Israel, mas o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deitou por terra novas hipóteses de um cessar-fogo ao reiterar a sua defesa por uma invasão a Gaza – apesar dos apelos em contrário dos Estados Unidos, o seu mais importante aliado.

No domingo, um ataque do Hamas fez quatro mortos entre o exército israelita, junto à passagem de Kerem Shalom, tornando a perspetiva de um cessar-fogo ainda mais improvável.

Estudantes pró-palestinianos ocuparam um relvado no campus da Universidade de Columbia, em Nova Iorque

Andrew Lichtenstein

Acordo inclui trégua em três fases e libertação de reféns

A proposta de trégua aceite pelo Hamas inclui um cessar-fogo em três fases e a libertação dos reféns na Faixa de Gaza, mas terá ainda de ser aprovada por Israel, segundo fontes próximas das conversações.

Citadas pela agência de notícias espanhola Efe a coberto do anonimato, as fontes indicaram que na primeira fase será aplicada uma suspensão das hostilidades por 40 dias com possibilidade de prorrogação, bem como a retirada das forças israelitas para o leste da Faixa de Gaza e para longe das áreas densamente povoadas

A proposta apresentada pelo Egito e o Qatar prevê também o regresso dos deslocados às suas casas, segundo o canal televisivo qatari Al-Jazeera e a estação de televisão estatal egípcia Al-Qahera News, muito próxima dos serviços secretos do país norte-africano. A partir do primeiro dia do cessar-fogo, o Hamas libertaria três reféns de três em três dias, ao passo que Israel libertaria “um número correspondente de prisioneiros palestinianos”, ainda por acordar.

Por sua vez, o membro da direção política do Hamas Jalil al-Haya disse à Al-Jazeera que a segunda fase do acordo inclui “o fim permanente das operações militares” de Israel na Faixa de Gaza.

Outras notícias:

> O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, classificou o ultimato das autoridades israelitas sobre Rafah como “desumano” e advertiu que a deslocação forçada de civis constitui um crime de guerra. “Isto é desumano. É contrário aos princípios básicos das leis internacionais humanitárias e dos direitos humanos, que têm como preocupação primordial a proteção efetiva dos civis”, afirmou Volker Türk, em comunicado.

> O primeiro-ministro britânico afirmou esta segunda-feira estar “profundamente preocupado” com a possível ofensiva israelita em Rafah, e apelou a “todas as partes, em particular o Hamas”, para que aceitem um acordo para libertar os reféns israelitas.

> A Autoridade Palestiniana apelou aos EUA para que impeçam a ofensiva israelita no sul de Gaza, alertando para as “repercussões perigosas” das manobras militares de Israel. A liderança da Autoridade Palestiniana afirmou ainda que multiplicaram as discussões “intensivas” com os seus parceiros internacionais sobre este assunto;

> As autoridades alemãs criticaram Israel pelo encerramento da redação da televisão Al-Jazeera, sublinhando a importância da liberdade de imprensa, sobretudo “em tempos de conflito”. “Uma imprensa livre e diversificada é a pedra angular de qualquer democracia liberal. Especialmente em tempos de conflito é de crucial importância proteger a liberdade de imprensa”, afirmou o ministério dos Negócios Estrangeiros alemão numa publicação na rede social X.

> O movimento libanês Hezbollah, apoiado pelo Irão, anunciou ter disparado “dezenas de foguetes de artilharia” contra uma base israelita nos Montes Golã, em represália por um ataque no leste do Líbano.

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