“Hoje é um grande dia para os Ashanti, um grande dia para o continente negro africano e os espíritos estão novamente entre nós”, afirmou hoje o rei Ashanti, Otumfuo Osei Tutu II, no Museu do Palácio Manhyia, em Kumasi, sede do reino.

A exposição apresenta, pela primeira vez, vários objetos da corte real de Ashanti que foram pilhados durante o colonialismo e que foram agora emprestados pelo Museu Britânico e pelo Museu Victoria and Albert por um período de seis anos.

Entre os objetos encontram-se uma espada Mponponso com 300 anos, utilizada durante as cerimónias de juramento dos monarcas do império Ashanti (XVII-XIX) – uma organização política que existiu num território que hoje em dia englobaria o Togo e Gana – os Asantehene, e um cachimbo da paz em ouro.

Em janeiro, aqueles dois museus britânicos anunciaram que os objetos de ouro e prata associados à corte real de Ashanti seriam expostos em Kumasi no âmbito de um empréstimo a longo prazo.

“Muitos destes artefactos serão expostos no Gana pela primeira vez em 150 anos”, acrescentaram.

A abertura desta exposição ocorre numa altura em que aumenta a discussão e a pressão sobre museus e instituições europeias e americanas para que devolvam património retirado de vários países que estiveram sob o domínio de antigas potências coloniais, como Reino Unido, França, Alemanha e Bélgica.

Em Portugal, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na semana passada que o país deve liderar o processo de assumir e reparar as consequências do período do colonialismo e sugeriu como exemplo o perdão de dívidas, cooperação e financiamento.

No dia 27, à margem da inauguração do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, em Peniche, Marcelo Rebelo de Sousa disse que, ao longo da sua presidência, tem defendido que Portugal tem de “liderar o processo” em diálogo com esses países.

“Não podemos meter isto debaixo do tapete ou dentro da gaveta. Temos obrigação de pilotar, de liderar este processo, porque se nós não o lideramos, assumindo, vai acontecer o que aconteceu com países que, tendo sido potências coloniais, ao fim de x anos perderam a capacidade de diálogo e de entendimento com as antigas colónias”, alertou.

Questionado pelos jornalistas, o Presidente da República defendeu que o atual Governo deveria continuar com o processo de levantamento dos bens patrimoniais das ex-colónias em Portugal, iniciado pelo anterior Governo, para posteriormente devolvê-los.

Três dias antes, num jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal, o chefe de Estado já tinha reconhecido responsabilidades de Portugal por crimes cometidos durante a era colonial, sugerindo o pagamento de reparações pelos erros do passado.

Depois das declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, o Governo afirmou, em comunicado, que “não esteve e não está em causa nenhum processo ou programa de ações específicas com o propósito” de reparação pelo passado colonial português e defendeu que se pautará “pela mesma linha” de executivos anteriores.

Sobre a devolução de património com origem nas ex-colónias, em novembro de 2022, em entrevista ao semanário Expresso, o então ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, afirmava que “a forma eficaz para tratar este tema é com reflexão, discrição e alguma reserva”, antes de realçar: “A pior forma de tratar este tema é criar um debate público polarizado”.

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