Passaram-se duas semanas e o movimento estudantil nas universidades norte-americanas contra a ofensiva israelita na Faixa de Gaza continua. Mas como é que o mundo vê estes protestos? Alguns países apontam o ‘dedo’ à cultura norte-americana, outros focam-se no antissemitismo e outros na violência policial.

Nos Estados Unidos o cenário não é o melhor, sendo que mais de duas mil pessoas já foram presas nestes protestos e os confrontos com a polícia têm aumentado à medida que as autoridades — às vezes a pedido das próprias instituições de Ensino Superior — ordenam aos manifestantes que removam os acampamentos erguidos nos campus.

As manifestações por uma Palestina livre aumentaram desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, há sete meses. Apesar da ajuda que têm prestado a Gaza, os Estados Unidos são um aliado conhecido de Israel e ainda na semana passada o Senado aprovou um projeto de lei que prevê cerca de 24,3 mil milhões de euros para Israel e 9,4 mil milhões em assistência humanitária a Gaza. E há poucas semanas, os EUA vetaram a adesão plena da Palestina à ONU, que seria o primeiro passo para ser oficialmente reconhecida como um Estado.

Apesar dos Estados Unidos se terem afastado, ao longo da guerra, das posições de Benjamin Netanyahu, o dinheiro e o apoio continuam a chegar a Israel e o descontentamento face à posição de Washington a favor de Telavive alastrou-se, então, ao seio universitário.

Uma vez que os Estados Unidos não estão, oficialmente, contra Israel, nem todos os países veem com ‘bons olhos’ estas manifestações, considerando-as uma hipocrisia, ou até mais um controverso choque cultural dentro da América.

Segundo o balanço feito pelo “New York Times”, em França, os estudantes já se juntaram à causa e teme-se que os protestos pró-palestinos sejam apenas um exemplo da cultura ‘woke’ importada dos Estados Unidos, que está a ameaçar os principais valores republicanos franceses. A crítica vem principalmente da direita. Na sexta-feira, agentes da polícia invadiram uma universidade de elite em Paris, a Sciences Po, para retirar estudantes que ocuparam o edifício durante a noite. Os manifestantes exigiram que a universidade condenasse o que chamaram de “o genocídio em curso em Gaza” e reavaliasse as suas parcerias com universidades israelitas.

Por sua vez, na Alemanha, os protestos norte-americanos tiveram maior cobertura que os protestos no próprio país. Aliás, alguns media alemães olham para estes protestos apenas pela ‘lente’ antissemita, focando-se no ódio contra os judeus. A Alemanha tem sido criticada pelo seu apoio ‘cego’ a Israel — apoio esse dado, em grande parte, pela história e por forma a compensar os atos cometidos pelos nazis contra os judeus na altura da Segunda Guerra Mundial. Ainda assim, à semelhança dos EUA, aos poucos tem-se distanciado de Israel.

No Egito o foco foi para a violência policial. As imagens de polícias a esmurrar e a arrastar os estudantes foram transmitidas em muitos canais noticiosos ou outros programas, como talk shows. Moustpha Bakry, membro do Parlamento egípcio, com o seu próprio programa de televisão, disse que os EUA perderam a sua credibilidade como defensores das liberdades.

Na China pouco se ouviu falar dos protestos. A razão mais provável, segundo Jean-Pierre Cabestan, professor de ciência política em Hong Kongas, é o facto das autoridades chinesas não quererem protestos estudantis nos seus próprios campus.

Mais perto dos EUA, na Colômbia, os meios de comunicação escreveram que as violentas detenções de estudantes eram oportunidade para lembrar aos leitores a crise humanitária em Gaza. De notar que, esta semana, o presidente, Gustavo Petro, anunciou que iria quebrar as suas relações diplomáticas com Israel.

Por fim, no Irão, os meios de comunicação escrevem que, o que acontece agora nos EUA, é uma prova das “duplicidade de critérios” em relação à liberdade de expressão, apontando a hipocrisia do liberalismo americano. Já o ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir Abdollahian, expressou preocupação com a segurança dos estudantes ativistas e manifestantes americanos através da rede social X.

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