Não se sabia quando, onde ou com que magnitude aconteceria, mas um evento climático extremo como as cheias históricas das últimas semanas, que se tornaram no maior desastre climático de sempre no Rio Grande do Sul (RS), era uma tragédia à espera de acontecer. Especialmente vulnerável aos efeitos das alterações climáticas devido à sua localização, o estado mais a sul do Brasil e na fronteira com o Uruguai e a Argentina teve, em 2023, o derradeiro aviso sob a forma de três enchentes que causaram 75 mortos.

Contudo, assim que as condições meteorológicas abrandaram, municípios que haviam ficado debaixo de água retomaram a normalidade, reconstruindo ruas, estradas e casas o mais fiéis possíveis às anteriores, reconstituindo a paisagem urbana arrasada pela enxurrada. “Em todos os eventos [do género] se reconstruiu no mesmo lugar, da mesma forma e agora as mesmas coisas foram perdidas de novo”, lamenta Marcelo Dutra da Silva, investigador e professor de Ecologia na Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

O especialista considera que as cheias do ano passado foram “de certa forma” um aviso ignorado pelas autoridades a nível local e nacional, mas salienta que “não dá para dizer que a culpa é apenas dos governantes”. “Eles estão refletindo, justamente, o que a sociedade de forma geral pensa”, problematiza, acrescentando que “as pessoas normalmente não vivem preocupadas com este tema”.

De acordo com a Agência Pública, agência brasileira de jornalismo especializada em direitos humanos, o Rio Grande do Sul foi, em 2023, o estado com o maior número de decretos de situação de emergência e de calamidade pública relacionados com a chuva no Brasil. Mas, mesmo depois dos três episódios de chuvas fortes e cheias de junho, setembro e novembro, não foram realizados esforços suplementares para aumentar a proteção contra as cheias, designadamente na capital gaúcha, Porto Alegre.

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