À primeira vista, parece um daqueles livros de auto-ajuda para os quais já vai restando pouca paciência. Mas depois olhamos para o título com olhos de ver e sorrimos, o sorriso entendido de quem sabe, exatamente, ao que é que a autora se refere. Esta jornalista da Máxima guarda na memória vários episódios em que hesitou se devia lavar o cabelo, não lavou e se arrependeu, e é capaz de apostar um dedo mindinho em como a leitora – desculpem, mas isto parece ser uma cena mais de mulheres – também já passou pelo mesmo. Então, mas isto é um livro sobre cabelos, penteados e empoderamento capilar? De todo. É, isso sim, o mesmo que ter uma amiga próxima super bem-sucedida a contar-nos como chegou onde chegou, o que faria diferente, e a dar-nos ideias e encorajamento para fazermos mais e melhor nas nossas vidas e com menos tropeções. Lê-se de uma assentada e desce muito bem com um copo de lambrusco ou uma chávena de chá.

Um guia para quem queira começar o seu próprio negócio ou viver uma vida mais feliz

Foto: DR

Comecemos pelo início. Anya Hindmarch é uma empresária britânica no setor dos acessórios de moda de luxo – carteiras, em especial. Aos 16 anos, desenhou-se a si própria em frente a uma loja de malas e carteiras com o seu nome a todo o comprimento da montra. Se fosse hoje, dir-se-ia tratar-se de um exercício de visualização, mas, em meados dos anos 80 não havia tal coisa. Certo é que Anya seguiu o seu sonho com vontade férrea. Aos 18 anos, quando as amigas foram para a faculdade, Anya foi para Florença à procura de um modelo de carteira que pudesse levar de volta e vender em Inglaterra  – vendeu quase 500 sacos e fez um lucro de 7000 libras: um negócio que começou assim, em 1987, e que desenvolveu até ter 58 lojas em dez países. Pelo caminho e ainda muito jovem, com 25 anos, fez uma escolha que talvez poucos fizessem: casou-se com um jovem viúvo pai de três crianças com menos de quatro anos. E alguns anos depois tiveram mais dois filhos.

Foi, mais ou menos, esta imagem que Anya desenhou aos 16 anos

Foto: Getty Images


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Ao longo de 220 páginas, Anya Hindmarch partilha inúmeros conselhos práticos sobre “ser-se mulher, mãe, madrasta, casada, mulher de negócios e empresária, e sobre como lidar com os desafios que surgem ao tentarmos ser todas essas coisas ao mesmo tempo”. Aqui fica um apanhado de alguns dos mais úteis e memoráveis:

  1. Sobre deixar as emoções de parte: “Ser delicada e compreensiva, ser franca, ser até vulnerável – deixar a emoção transparecer – não significa ser fraca. Podemos ser delicadas e fortes ao mesmo tempo.”
  2. Sobre um jogo que criou com o filho para poder dormir descansada quando ele sai à noite: “Com o ‘bate o relógio’ [do inglês beat the clock], o adolescente noctívago e eu acordamos uma hora de regresso (pode ser bastante tarde), eu ponho o despertador para essa hora e vou para a cama. A regra é que o filho tem de voltar a casa a tempo de desligar o despertador na minha mesa de cabeceira antes que ele toque.”
  3. Ainda sobre maternidade, Anya partilha um conselho que a sogra lhe deu: “Se fores feliz, os teus filhos serão felizes.” A isto, a empresária acrescenta que “sermos infelizes com sacrifícios constantes da própria felicidade em nome dos filhos é um erro.”
  4. Sobre encontrar um bom parceiro: “Seja realista. Repare nas coisas hoje, aceite-as, perceba que, provavelmente, só vão piorar em vez de melhorar quando perder o filtro o cor-de-rosa do enamoramento, e não se queixe quando já forem casados. […] Quando começamos a encontrar o negativo (‘Eu mudei a última fralda’), o negativo é-nos atirado à cara (‘Pois, eu acordei às cinco da manhã todos os dias desta semana’).”
  5. Sobre o burnout: “Penso sempre no esgotamento [burnout] como uma queimadura solar [sunburn]: no momento em que percebemos que estamos em perigo, é tarde demais – já aconteceu.”
  6. Sobre os desafios de liderar uma empresa e tudo o que isso implica: “A autoconfiança é como um músculo. Se nos obrigarmos a usá-la, talvez até a ir mais longe do que é confortável, fica mais forte.”
  7. Ainda sobre os desafios de liderar uma empresa: “Aprendi que o medo não é algo a evitar. Quando aceitei que o medo e o entusiasmo são duas faces da mesma moeda, o medo tornou-se algo a procurar, a assumir. […] Quando abordamos uma coisa assustadora ou difícil, obtemos sempre algo em retorno. Atire energia às coisas e receberá energia de volta.”
  8. Sobre manter os colaboradores satisfeitos: “Tento sempre elogiar as pessoas antes de elas partirem para umas férias grandes. Faço-o porque sei que as férias são, muitas vezes, um momento de balanços.”
  9. Quando fazer menos é fazer mais: “Se está a sentir-se sobrecarregada, em vez de tentar despachar tudo – o que nunca funciona porque quanto mais [emails] enviar, mais receberá –, abrande o fluxo da circulação. Não responda imediatamente a todos os e-mails.”
  10. Sobre criar ligações genuínas: “E acredito, verdadeiramente, que, enquanto uma pequena dose de ‘fingir até ser capaz’ [do inglês fake it ‘til you make it] não faz mal a ninguém, a autenticidade tem de ser o nosso objetivo, tanto na vida pessoal como no trabalho. A autenticidade é o que as pessoas reconhecem e nos permite fazer ligações genuínas.”
O saco “I’m Not a Plastic Bag” foi um dos grandes sucessos da marca Anya Hindmarch

Foto: Getty Images

Terminamos com o conselho que dá nome ao livro, e cujo significado Anya explica logo na introdução: “Resume, literalmente, como me sinto muito melhor comigo própria – muito mais confiante, com os olhos mais brilhantes, muito mais capaz de lidar com as coisas e de reagir  – se tiver a cabeça acabada de lavar.”

Na Dúvida, Lave o Cabelo é um livro da Lua de Papel, chancela do grupo Leya, custa 14,31 euros e está à venda nas livrarias do costume.

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