A Turquia parou todas as trocas comerciais com Israel a partir desta quinta-feira e por tempo indeterminado, garantiram hoje dois responsáveis das autoridades turcas citados pelo portal económico “Bloomberg”.
A decisão surge no mesmo dia em que Ancara anunciou que vai juntar-se à África do Sul na denúncia judicial contra Israel por alegadas práticas de genocídio na Faixa de Gaza, um processo que está a correr no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ).
No mês passado, Recep Erdogan já tinha anunciado restrições nas exportações do país para Israel. O Presidente turco tem sido um dos líderes mais críticos da ofensiva militar de Telavive no enclave palestiniano, tendo há poucos dias comparado Benjamin Netanyahu a Hitler (e não pela primeira vez).
As trocas comerciais entre os dois países totalizaram mais de €6,34 milhões no ano passado; 76% deste valor é referente a exportações turcas, sobretudo ferro e aço.
O governo de Israel já reagiu à decisão de Ancara: “Este é o comportamento de um ditador que atropela os interesses do povo turco e da sua economia, ao mesmo tempo que ignora acordos comerciais”, acusou Israel Katz, ministro dos Negócios Estrangeiros israelita.
O governante prometeu também a criação imediata de rotas alternativas, aumentando a produção interna de bens e encontrando outros países fornecedores.
Em simultâneo, as autoridades israelitas estão a pressionar o Tribunal Penal Internacional (TPI) para evitar a emissão de mandatos de captura contra políticos e militares com responsabilidades na ofensiva de Gaza. Esta semana, Benjamin Netanyahu declarou que não reconhece a autoridade do TPI – e pediu ajuda à Casa Branca, que já disse não apoiar as investigações judiciais.
Telavive está a ter ajuda de vários congressistas republicanos dos EUA próximos de Donald Trump, que já começaram a preparar legislação para retaliar contra funcionários do Tribunal Penal Internacional (TPI).
Mike Johnson, presidente da Câmara de Representantes, prometeu “usar todos os instrumentos disponíveis para impedir” a emissão de mandatos de captura contra responsáveis de Israel, considerando a hipótese uma “abominação”.
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Reconstruir Gaza será a obra “mais difícil desde a II Guerra Mundial”
A reconstrução da Faixa de Gaza deverá custar entre 28 e 38 mil milhões de euros, segundo estimativas divulgadas esta quinta-feira por um responsável da ONU, que aponta para uma “escala de destruição enorme e sem precedentes” no enclave.
“As estimativas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD] para a reconstrução total na Faixa de Gaza ultrapassam os 30 mil milhões de dólares [28 mil milhões de euros], podendo chegar aos 40 mil milhões de dólares [37,4 mil milhões de euros]”, afirmou Abdallah al-Dardari, diretor do gabinete regional do PNUD para os Estados Árabes, numa conferência de imprensa em Amã.
Reconstruir Gaza será “uma tarefa que a comunidade internacional não tinha de enfrentar desde a Segunda Guerra Mundial”, sublinhou o responsável da ONU, avisando que o “povo palestiniano não se pode dar ao luxo de esperar décadas.”
“É importante agirmos rapidamente para realojar as pessoas em alojamentos decentes e restabelecer a vida económica, social, sanitária e educativa normal. Esta é a nossa prioridade absoluta e deve ser alcançada nos primeiros três anos após a cessação das hostilidades”, referiu.
As Nações Unidas calculam que pelo menos “37 milhões de toneladas” de escombros se acumularam na sequência dos atentados e explosões, desde o início da guerra entre Israel e o Hamas. Este número “está a aumentar todos os dias” e já se aproxima das 40 mil toneladas. Além disso, “72% de todos os edifícios residenciais foram total ou parcialmente destruídos” nos últimos meses.
“A reconstrução deve ser meticulosamente planeada, eficiente e extremamente flexível, porque não sabemos como a guerra vai acabar”, finalizou Abdallah al-Dardari.
Os ataques israelitas contra o território palestiniano já mataram cerca de 34 600 pessoas.
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> A doca temporária que está a ser construída pelos EUA ao largo de Gaza para garantir a entrada de bens essenciais estará pronta nos próximos dias. A garantia foi dada hoje por John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. A plataforma vai custar quase €300 milhões.
> Os serviços de informações internas de Israel (Shin Bet) anunciaram o desmantelamento de uma célula da jihad islâmica em Yabed, na Cisjordânia. Três membros do grupo foram detidos: preparavam-se para “realizar grandes ataques com explosivos detonados remotamente”, garante Telavive. Desde o início da guerra, as tropas israelitas já mataram mais de 460 palestinianos na Cisjordânia.
> Joe Biden apelou hoje ao bom senso dos manifestantes pró-Palestina que estão a acampar há semanas em várias universidades norte-americanas. “A dissidência é essencial para a democracia. Mas a dissidência nunca deve levar à desordem”, avisou o Presidente dos EUA.