As mais recentes análises aos esgotos de 88 cidades europeias de 24 países (23 da União Europeia + Turquia) revelam os padrões de consumo de droga de milhões de habitantes. Em pelo menos 50 países registou-se um aumento no consumo de cocaína, uma tendência que tem vindo a crescer desde 2016 e que preocupa o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT). Bélgica, Países Baixos e Espanha são os países onde esse crescimento é mais visível.
Ao todo, foram analisadas as águas residuais de 55.6 milhões pessoas durante um período de uma semana, entre março e maio de 2023. O consumo de drogas como cocaína, cetamina, anfetamina e ecstasy (MDMA) é mais frequente durante o fim de semana (sexta a segunda-feira). Foram encontrados vestígios das seis drogas ílicitas investigadas em quase todas as cidades incluídas no estudo.
Para além do crescimento constante da presença de cocaína, registou-se também um aumento significativo das deteções de ecstasy nas águas residuais, sendo que a maior concentração desta substância foi encontrada em cidades da Bélgica, Alemanha, França e dos Países Baixos. A cetamina, que está incluída neste estudo desde 2022, registou igualmente um aumento significativo, apesar dos níveis encontrados serem relativamente baixos.
No entanto, em mais de metade das cidades europeias registou-se uma diminuição das deteções de metanfetaminas, enquanto que nos dados referentes às anfetaminas e canábis se observam-se “padrões divergentes”. No que toca à canábis, as análises em 51 cidades mostram um aumento no consumo da substância em pelo menos 20, enquanto em 15 se verifica uma diminuição. Chéquia, Espanha, Países Baixos e Eslovénia são os países onde se registou uma maior presença de canábis nas águas residuais.
Em algumas situações, o consumo de cocaína, ecstasy e metanfetaminas é semelhante nas grandes e pequenas cidades, o que pode dar a entender que os “padrões urbanos” se estão a estender a outras regiões.
“A monitorização das águas residuais é um indicador de vanguarda valioso, que permite alertar precocemente para ameaças emergentes para a saúde e para a mudança de tendências”, afirma Alexis Goosdeel, diretor do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT).
As análises recolhidas têm como objetivo detetar a presença de pelo menos cinco drogas estimulantes ilícitas como a cocaína, metanfetamina, anfetamina, ecstasy (MDMA), cetamina e canábis. O estudo foi publicado pelo grupo europeu SCORE em colaboração com o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT) e integra o projeto europeu para a análise de águas residuais e drogas — “Wastewater analysis and drugs – a European multi-city study”.
Artigo de Mariana Jerónimo, editado por Mafalda Ganhão