“É num segundo disco que nos afirmamos ou que mostramos que se calhar não evoluímos tanto. A minha ideia era afirmar-me como intérprete e compositora, e ter um projeto mais centrado na guitarra portuguesa”, disse à agência Lusa Marta Pereira da Costa, referindo que, no seu álbum de estreia, saído em 2016, “quis apresentar tudo, tinha cordas, metais, quintetos, as vozes convidadas”.

A opção neste segundo álbum foi de recolhimento e de dar foco à guitarra portuguesa.

“Quis voltar a recolher-me para um ambiente intimista, onde dois instrumentos [guitarra portuguesa e piano] que conheço muito bem, e com os quais estou muito à vontade, vão sobressair, como se houvesse um foco apontado sobre eles, numa conversa entre os dois”, disse.

“Sem Palavras” inclui temas de Carlos Paredes, José Luís Tinoco, George Gershwin, entre outros compositores, e quatro de autoria de Marta Pereira da Costa.

“Foi muito giro trazer repertório de piano, como ‘Tom Waits’, de António Pinho Vargas, para a guitarra portuguesa, e fazer os arranjos para a guitarra”, contou.

O álbum inclui temas como “Aranjuez & Spain”, juntando dois temas, respetivamente do espanhol Joaquín Rodrigo (1901-1999) e outro do norte-americano Chick Corea (1941-2021) ou “Dr. Albertino”, do cabo-verdiano Luís Rendall (1898-1986).

“Tenho vindo a tentar levar a guitarra portuguesa o mais longe possível, e trazendo outras inspirações para a guitarra, daí ter escolhido o ‘Aranjuez’, do Rodrigo, o ‘Spain’, do Corea, ou os ‘Veinte Años’ da [cubana] Maria Teresa Vera [1895-1965], e também o ‘Summertime’ numa brincadeira com os ‘Verdes Anos’, ou a morna cabo-verdiana ‘Dr. Albertino’, do grande guitarrista Luís Rendall”, disse.

“A ideia é criar pontes, abrir janelas, levar a guitarra portuguesa para o mundo, e também trazer um pouco do mundo e da música que há no mundo para a guitarra”, acrescentou.

A guitarrista assina os temas “Memórias”, “Dia de Feira”, “Sem Palavras”, que dá título ao álbum, e “Tempo Parado”, o único que gravou a solo.

Sobre a maturidade que estes temas revelam, como compositora, Marta Pereira da Costa, de 41 anos, disse: “É sinal que estou a aprender, a evoluir a crescer, é esse o objetivo, tentar ser cada dia melhor”.

A guitarrista realçou o tema “Além-Terra”, de Mário Pacheco, uma homenagem que faz ao guitarrista, com quem “passou muitas horas no Clube de Fado [em Lisboa]”, que este fundou e dirigiu, e que é “uma referência” para si.

“O Mário Pacheco ajudou-me muito no início da minha aprendizagem”, sublinhou.

Todos os temas, excetuando “Tempo Parado”, têm arranjos de Marta Pereira da Costa e Iván Melón Lewis.

Marta Pereira da Costa conheceu o pianista cubano, em 2016, quando participou num álbum da iraniana Tara Tiba. Tendo em conta a sua carreira e os prémios que recebeu, decidiu convidá-lo para este projeto, pois achou “que ia enriquecer o trabalho deste disco”.

O alinhamento do álbum estava feito e “a única canção que não estava terminada era ‘Sem Palavras’ e trabalhámos juntos, mostrei-lhe as ideias e qual era a sequência, mas todos estes temas, a partir do momento em que o Ivan Melón Lewis colocou as mãos no piano, tem o cunho dele pois a maneira dele tocar transforma as músicas e daí ter divido os arranjos das músicas com ele”, afirmou.

A guitarrista apresenta o álbum, com o pianista Ivan Melón Lewis, no sábado, na Casa da Música, no Porto.

A guitarrista iniciou a sua formação musical em piano aos 4 anos, estudou durante dois anos guitarra clássica e, aos 18 anos, começou a estudar guitarra portuguesa, com António Chainho.

Em 2012, gravou para os “Fados de Amor”, de Rodrigo Costa Félix, o primeiro disco da história do fado onde a guitarra portuguesa no disco é tocada exclusivamente por uma mulher. O álbum recebeu o Prémio Amália Melhor Álbum 2012.

Dois anos mais tarde, recebeu o Prémio Amália Melhor Instrumentista.

Como instrumentista, Marta Pereira da Costa fez parcerias, entre outros, com Tiago Bettencourt, Mayra Andrade, Tito Paris, Camané, Rui Veloso, Dulce Pontes, Toquinho, Hamilton de Holanda, ou Jaques Morelembaum, entre outros.

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