No feriado dedicado ao trabalhador e que em Portugal se comemora há 50 anos, porque antes do 25 de abril tal não acontecia, entre os milhares de pessoas que estiveram na rua José e Fernando lembraram à Lusa o mesmo dia de 1974, quando estavam também ali, a comemorar pela primeira vez a data e em liberdade.

Lembrando as comemorações do 25 de abril, na semana passada, Fernando Libório, 84 anos, viu nelas, pela quantidade de gente que aderiu, “o segundo 25 de abril”. Já o primeiro de maio de 1974 “foi uma coisa…”. Referia-se aos milhares de pessoas que encheram as ruas então. Mas acrescentou após uma pausa: “Mas este não é mau”.

Fernando Libório olhava a Avenida cheia, falava das muitas pessoas que demoraram mais de duas horas s subir a rua, à participação dos jovens, que afiançou ser muita, ainda que a Lusa não tenha visto grande adesão de jovens na manifestação de hoje.

Mas nela participaram muitas famílias, algumas com bandeiras, os sindicalistas da marcha, organizada pela central sindical CGTP, com faixas repletas de exigências, e palavras de ordem o tempo todo.

No cimo da marcha as bandeiras da central sindical, muitas, mas depois também bandeiras de sindicatos pertencentes à família CGTP, algumas de Portugal, do Brasil até, da Palestina. E cartazes alusivos à imigração, a dizer que “ninguém é ilegal”. E outros a exigirem melhores salários, alguns deixando a exigência em verso. “Hospital a tempo inteiro, quer o povo do Barreiro”.

José Ernesto Cartaxo, antigo sindicalista, 81 anos, estava na Avenida há 50 anos com outras exigências. A Intersindical, criada em 1970, na primeira reunião após o 25 de abril tinha como primeira exigência que o dia 01 de maio fosse feriado.

Mas também o direito à greve, o salário mínimo nacional… “havia todo um trabalho que vinha de trás e que desaguou no primeiro de maio”, recordou à Lusa, lembrando também a “coisa impressionante e avassaladora” que foi o dia há 50 anos.

Tinha então 31 anos. Estivera preso entre 1971 e 1973, teve depois dificuldade em arranjar emprego por ser preso político, mas desde outubro que trabalhava numa empresa de metalomecânica, era sindicalista, esteve envolvido nas comemorações.

Nestes 50 anos, disse, “houve evoluções muito grandes”, o nível da vida das pessoas melhorou, os valores de abril foram consagrados na Constituição. “O problema é que esses valores não estão a ser praticados”, acrescentou, defendendo que a melhor forma de defender os direitos é exercendo-os, especialmente em momentos que se tentam silenciar esses valores do 25 de abril.

Abril esteve presente nas palavras de ordem, como “Abril e maio de novo, com a força do povo”, mas também na conhecida frase “o povo unido jamais será vencido”.

Fernando Libório, mão dada com a mulher, conta que esteve preso em Caxias, que fugiu para os Países Baixos, que voltou após a revolução a tempo de estar na Avenida, onde volta todos os anos, até porque as pessoas “cada vez passam pior” e é preciso falar e lutar.

E se há 50 anos havia muita miséria hoje, afiançou, também há, só que encoberta, e há “os governos a explorar as pessoas”. Há que lutar, avisou, porque “o fascismo está sempre à espreita”. E prometeu voltar sempre à Avenida, até morrer.

A Avenida de hoje, de vez em quando com cheiro a comidas orientais, muitos curiosos a assistir à marcha de telemóveis em punho, um homem indiano a tentar vender chapéus vermelhos, um grupo a oferecer livros de uma confissão religiosa, desembocou na Alameda Dom Afonso Henriques.

Terminou aí a manifestação de Lisboa do primeiro de maio, onde o cheiro a chamuça foi substituído pelo das bifanas. O homem dos chapéus vermelhos também lá estava.

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