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É um dos “business angels” portugueses mais ativos. Há 15 anos que dá workshops pelo mundo inteiro sobre como mitigar o risco de um negócio. Acredita que o Estado, em vez de dar dinheiro a fundo perdido, devia contratar as empresas. Com a entrada em vigor da Lei do Restauro, receia que sem a intervenção dos privados, 80% dos ecossistemas naturais corram o risco de ficar ao abandono. Oiça a conversa com Paulo Andrez no podcast Ser ou Não Ser

Paulo Andrez é business angel (BA) e autor do livro Zero Risk Start Up editado pela Forbes Books. É o primeiro português a conseguir um best seller na área de conhecimento das Start Up e a atingir o top 10 de maiores vendas, nos Estados Unidos. Qual a fórmula de sucesso? “Há quinze anos que dou workshops de gestão de riscos e fui colecionando soluções de empreendedores que contavam como resolviam problemas específicos”, explica. São mais de 100 dicas que resultaram em negócios, que mitigaram o risco e que os ajudaram a crescer e a obter financiamento.

O autor revela que a maioria das pessoas tem uma ideia de negócio, ou até gostaria de ser empreendedor, mas nunca avançou por questões de risco, por isso na sua opinião é fundamental identificá-los para os mitigar. “O risco é o principal fator para a criação de empresas. Um governo que queira aumentar o nível de empresas num determinado país tem de ajudar a mitigar o risco dos empreendedores”, defende. No entanto, na sua opinião “as ideias valem zero. O que tem valor é a execução”.

O BA diz que o Estado só sabe dar dinheiro a fundo perdido. “Isso dá votos, é verdade! Atenção: não estou a falar de nenhum governo específico, nem de Portugal. Isto acontece globalmente”, clarifica. E dá exemplos: o Estado podia

auxiliar as Start Up a testar as suas próprias tecnologias para mostrar aos clientes, obrigando, por exemplo, as universidades e laboratórios — que têm investimento a fundo perdido, a deixar horas livres para os empreendedores poderem investigar as suas ideias. “Assim seria possível o empreendedor verificar se a sua ideia funciona sem necessitar de um investimento brutal”.

O empresário acredita ainda que os muitas vezes as Start Up não necessitam de investidores, precisam é de clientes. Na sua ótica, o Estado em vez de dar um milhão de euros a uma empresa, deveria contratá-la por um milhão de euros. “Para a empresa é o mesmo, mas com a vantagem de já ter um cliente, uma referência para apresentar no seu portfólio”.

Falou ainda do mundo dos BA e da forte comunidade portuguesa de anjos do dinheiro. “Temos um dos melhores exemplos a nível mundial. Em 2009, foram lançados os primeiros fundos de co-investimento — o Estado investe com os BA, e essa é a melhor prática que pode ser feita”, diz, comentando ainda que a segunda melhor prática são os incentivos fiscais. Nesta matéria, Portugal não está tão bem posicionado. “No Reino Unido, por exemplo, têm o Enterprise Investment Scheme, que permite fazer deduções fiscais até 50% e, em casos específicos, chegar mesmo aos 75%. Por cá, ronda apenas os 20%.”

TOMAS ALMEIDA

Na área da sustentabilidade o risco é também um fator decisivo. Paulo Andrez foi convidado a apoiar casos de restauro de ecossistemas naturais de água doce, como lagos, rios e outras zonas húmidas em toda a Europa. O projeto chama-se Merlin e é financiado pela União Europeia com um investimento de 10 milhões de euros, apesar de ter também algum investimento privado. Este tem potencial para promoção de oportunidades económicas significativas, apoiando negócios verdes, agricultura sustentável e expandindo atividades de recreio.

Nesta área, o BA aponta que muitas vezes falta visão de negócio aos empreendedores e que ficam muito dependentes dos fundos e conta a história de um projeto que tinha uma alga invasora que crescia mais rápido do que os fundos europeus. “Avaliei e concluí que as vacas adoram comer esta planta, então fiz acordo com agricultores e agora esta é uma fonte de negócio”.

O business angel lamenta que 99% dos restauros dos ecossistemas seja feito com investimento público. Só 1% provem de dinheiro privado. “Aqui há um problema gigantesco devido à aprovação da Lei do Restauro. O Estado não tem capacidade financeira, por isso, estamos a deixar cerca de 80% dos ecossistemas ao abandono. É preciso trazer os privados para dentro do sistema”, defende.

Outra área em que investe é na empresa United Resins que se dedica à investigação, desenvolvimento, produção e comercialização de resina e de outros produtos químicos. Esta empresa já completou 15 anos de atividade e é uma das maiores produtoras de resinas do mundo. “No ano passado faturou 24,5 milhões de euros e é uma empresa de futuro porque está a querer substituir os derivados de petróleo por resina natural, como por exemplo, fazer tinta de impressão com resina”, diz. Também investiu numa empresa de insetos na Estónia que defende ser uma boa aposta, nomeadamente para as indústrias farmacêutica e alimentar. O investidor acredita ainda que a tecnologia é fundamental para a sustentabilidade e diz existirem algumas empresas em Portugal com capacidade para ajudar nesta transição.

Ser Ou Não Ser

Mário Henriques

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