Se os franceses acordarem, na próxima segunda-feira, com uma vitória do projeto político de Marine Le Pen – o Reagrupamento Nacional (RN) -, a França do seu futuro mais imediato será outra. A teoria tem sido apregoada por muitos analistas de política internacional, mas o que significa na prática? “Eles trarão uma série de ideias para redefinir a nacionalidade francesa, e a própria cidadania”, garante Philippe Marliere, professor de política francesa e europeia na London’s Global University, em declarações ao Expresso.

“O que é ser francês? Será uma questão renovada. E isso pode muito bem inflamar o país. A extrema-direita quer impedir que pessoas com dupla nacionalidade exerçam determinados empregos, e querem mudar a Constituição para o fazer. Quer proibir a venda de alimentos halal ou kosher [que seguem determinadas regras para que possam ser consumidas por muçulmanos ou judeus]. A preferência nacional é outra política emblemática, e implica o apoio em primeiro lugar aos cidadãos franceses.”

São guerras culturais que deverão abrir uma ferida na França da liberdade, igualdade e fraternidade. O investigador Philippe Marliere acredita que os próximos tempos poderão ser de “raiva e medo”, com as “tensões raciais a aumentarem repentinamente”.

“Estaríamos a olhar para o primeiro governo da extrema-direita de França desde 1944, e não temos ideia de como funcionará”, nota o politólogo ucraniano Anton Shekhovtsov, que também antevê um período conturbado para os franceses. “Haverá grandes protestos por toda a França, tanto por parte da esquerda, como pelos sindicatos, pelos anarquistas e pelos antifascistas”, considera o professor e investigador do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Central Europeia (Áustria). “A França será um país problemático por algum tempo, especialmente agora que estamos no verão e haverá os Jogos Olímpicos. Será mesmo um verão muito quente em todos os sentidos.”

Compartilhar

Leave A Reply

Exit mobile version