Em 18 de junho, a Nvidia ultrapassou a Microsoft como a cotada mais valiosa de Wall Street, o que colocou a empresa de ‘chips’ nas ‘bocas’ do mundo.

E o que é que a Nvidia tem de especial? “O chip, uma peça de semicondutor” que qualquer modelo de aprendizagem de máquinas ou que tem IA precisa para “poder ‘mastigar’ todos os dados para criar o modelo que pode fazer o processamento de dados”, sintetiza Leid Zejnilovic, fundador e codiretor académico da Nova SBE Data Science Knowledge Center.

Aliás, o ‘chip’ não é só para treinar, mas também para executar os modelos. Leid Zejnilovic dá o exemplo do ChatGPT, da OpenAI, em que existe um modelo de IA que precisa de ser treinado.

“Anteriormente, os ‘chips’ e estes centros de processamento de grande escala eram apenas domínio de alguns países e centros de investigação, agora todas as empresas querem um centro assim para criar algo”, aponta o académico.

E “como não há muitos fabricantes de ‘chips’, as empresas vão à Nvidia”, acrescenta. Só no último ano, a Meta “comprou mais de 300 mil destes ‘chips'” para ter um poder computacional maior do que o maior centro computacional na Europa, exemplifica.

A empresa começou por produzir ‘chips’ para o ‘gaming’ [jogos], para a mineração de ‘bitcoins’, mas depois chegou a IA que também precisa deste tipo de semicondutores e, aqui, o negócio ainda vai no início.

Vítor Domingos, ‘lead solution architect’ na Hitachi Digital Services, grupo que é parceiro da Nvidia, destaca o percurso feito pela tecnológica nos “últimos cinco a 10 anos”, quando encontraram “a galinha dos ovos de ouro” ao desenvolver a capacidade das placas gráficas.

“A forma como eles se posicionaram no mercado permite desenvolver coisas mais rápido que os concorrentes”, salienta Vítor Domingos.

No fundo, a Nvidia vende “as pás para que as pessoas possam comprar carrinhos de mão” e outros materiais “para depois descobrir o seu próprio filão na IA”, ilustra o responsável da Hitachi Digital Services.

“O grande negócio já não é as placas gráficas para o consumo, computadores, mas sim para os ‘data centers’ [centros de dados]”, sublinha.

Também Pedro Marques Tavares membro da direção da APDC e ‘partner’ da Deloitte, que também é parceira da tecnológica, destaca o percurso da Nvidia.

“A Nvidia tem em especial uma coisa única que foi capaz de estar ‘ahead of time’ [antes do tempo] há 10 anos”, diz, recordando que a empresa nasce no contexto das placas aceleradoras de vídeo numa altura em que era preciso desenvolver ‘chips’ muito mais rápidos que a Intel e a AMD.

Os chamados GPU da Nvidia são de ‘chips’ que são muito mais rápidos do que as tecnologias que existiam na altura.

E estas capacidades de processamento exponenciais “estavam no momento certo com a tecnologia certa”, Pedro Marques Tavares.

Mesmo hoje, a Nvidia “continua a ser diferenciada e a aportar valor e a ser mais rápida à medida que a IA foi puxando por maiores capacidades de computação”, salienta o ‘partner’ da Deloitte.

Além disso, diz Leid Zejnilovic, a Nvidia é uma empresa que sempre “pensou no ecossistema”. Ou seja, “criaram ferramentas que proporcionam a otimização da utilização dos ‘chips’, software que ajuda os desenvolvedores” a treinar modelos de IA e, mesmo que a concorrência “ganhe força”, a Nvidia “tem estes produtores complementares”, o que lhes dá “vantagem competitiva”.

A IA “está só no início”, recorda o académico, salientando que a valorização das ações da Nvidia são “guiadas pela procura e por uma expetativa” de que o negócio ainda vai subir.

“Estamos mesmo numa fase inicial” da IA generativa, remata, apontando que atualmente a Nvidia é uma parceira “incontornável”, com “uma fatia de mercado de 80% na IA”.

Os concorrentes “estão a aparecer agora, mas ninguém sabe o tempo que vão levar para desenvolver elementos complementares”, salienta.

Em 2023, a Microsoft e a Meta sozinhos pediram 300 mil ‘chips’, estas “procuras são incríveis e não estão a abrandar e há cada vez mais interesse das empresas em estar presente, ganhar competências e executar modelos de IA a uma escala grande”, ou seja, com grande capacidade computacional, diz.

Além disso, a Nvidia “não é só um produtor de ‘hardware’, mas alguém que está constantemente a observar o seu posicionamento num ecossistema tecnológico e está a criar uma estratégia para ajudar todos os elementos do ecossistema a crescer, com várias parcerias, desenvolvimento em conjunto com outras empresas e com produtos complementares”, enfatiza.

E uma das vantagens competitivas “é esta diversificação em cima do que eles têm melhor, o poder computacional”, reforça.

Vítor Domingos salienta que a concorrência da Nvidia é com as empresas que estão a dominar nos ‘data centers’ como Amazon, Microsoft e Google.

A Nvidia tem “um modelo de negócio bastante sustentável”, agora o seu grande desafio será saber se consegue reter talento, remata o responsável da Hitachi Digital Services.

Pedro Marques Tavares aponta que a Nvidia vê-se como uma “empresa plataforma”, não como uma empresa de produção de ‘chips’.

No fundo, “veem-se como uma plataforma que disrrompe processos, o histórico, os negócios, mentalidades”, sumariza o responsável da Deloitte.

“A Nvidia vai continuar nesta escalada de aceleração de ter ‘chips’ mais rápidos”, antevê.

Sobre este tema, Sofia Marta, que é ‘country lead’ da Google Cloud Portugal, salienta o facto da tecnológica ser um dos parceiros da empresa.

“É um dos nossos parceiros, aliás, neste momento incontornáveis”, afirma.

“Acho que é incontornável ter essas parcerias, no caso da Google é importante salientar que nós, desde há muito, que começamos a jornada de investir naquilo que é a nossa própria infraestrutura e temos os chamados TPU [Tensor Processing Units] em contraponto com os GPU, disponibilizamos os dois aos clientes e recentemente lançámos a versão seis que é quatro vezes mais rápida do que a última versão que tínhamos”, conta.

“É fundamental termos uma infraestrutura robusta, resiliente, segura para conseguirmos escalar”, conclui a responsável.

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