João Pedro Pais não tem dúvidas: “Estamos a falar de um grande cantautor”. À BLITZ, o músico reagiu à morte de Fausto Bordalo Dias com algumas histórias do seu convívio com o próprio, falecido esta segunda-feira vítima de doença prolongada.

“Ele tinha uma tertúlia todas as quartas-feiras, que se realizava no Museu do Traje”, começa por contar. “De quando em vez, muito de quando em vez, eu aparecia lá. Eu não tinha a bagagem intelectual do Fausto, nem dos seus pares, mas ele gostava que eu estivesse presente. Era um homem muito assertivo nas suas observações e nas suas intervenções. Quando o Fausto falava, toda a gente se calava para o ouvir”.

Profissionalmente, João Pedro Pais esteve com Fausto Bordalo Dias por algumas ocasiões, entre elas no projeto “Lado a Lado”, disco lançado com Mafalda Veiga que conta ainda com a presença de José Mário Branco. Foi um dos convidados do álbum “Voz e Guitarra 2”, no qual João Pedro Pais interpreta ‘Lembra-me Um Sonho Lindo’, canção que integra um ‘sampler’ com 4 canções lançado gratuitamente em CD com a revista BLITZ de dezembro de 2013.

“Disse-lhe que queria que ele a ouvisse primeiro, antes [dessa versão] sair”, recorda. “Não sairá sem o Fausto me dar permissão de a cantar. E ele ouviu-a, e a resposta que me dá é: ‘Sabes, João Pedro, nós escrevemos coisas diferentes, mas o que tu fazes, fazes muito bem feito. É um gosto que cantes as minhas coisas’”.

Só isso seria uma espécie de medalha de honra, mas João Pedro Pais revela ainda que Fausto Bordalo Dias esteve presente no seu 40º aniversário. “Foi meu convidado. Lembro-me que o meu manager à altura, o Vicente Carvalho, me disse: ‘tu conseguiste trazer o Fausto?’ A ele, disse que era uma honra que estivesse ali. Ele chegou a dizer-me, uma vez, que era muito bicho-do-mato, e eu respondi-lhe que tínhamos isso em comum”, brinca.

“Falo alegremente sobre ele, mas há uma tristeza”, assume. “Um homem com aquele legado, que tem o melhor álbum de sempre da música popular portuguesa [”Por Este Rio Acima”]… Misturava a chula com música popular tradicional, mas as letras, riquíssimas…”. João Pedro Pais destaca, também, a prestação de Fausto em ‘Os Soldados de Baco’, de “Crónicas da Terra Ardente” (1994). “A maneira que ele tinha [de interpretar] era abismal”, atira.

“Não adivinhava que ele partisse agora, apesar de já ter 75 anos – mas hoje em dia, com 75 anos ainda se é novo. Todos nós queríamos que o Fausto não se fosse”, conclui. “A última vez que o vi foi de costas, ele ia com o neto, e não tive coragem de o chamar. Estava a usufruir da sua família. Tenho pena de não o ter chamado”.

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