Evan Gershkovich, jornalista norte-americano que estava detido há 14 meses sem qualquer acusação, começou a ser julgado esta quarta-feira num tribunal de Ecaterimburgo, cidade situada a 1500 quilómetros de Moscovo, por suspeitas de espionagem. Até agora, as autoridades russas tinham prolongado sucessivamente a sua prisão preventiva, sem nunca terem apresentado provas concretas das suas alegações, escreveu o ‘The Kyiv Independent’.

Gershkovich, correspondente do ‘The Wall Street Journal’ na Rússia, foi formalmente acusado de ser um espião ao serviço da CIA a 13 de junho, altura em que foi anunciado que iria a julgamento. O jornalista apareceu de cabeça rapada e sorridente na primeira sessão em tribunal, que decorreu à porta fechada, como deverá acontecer com as restantes.

O ‘The Wall Street Journal’ descreveu os procedimentos judiciais como “secretos”, uma vez que a sala de audiências está vedada a amigos, familiares, repórteres independentes ou representantes da embaixada dos EUA na Rússia. Evan Gershkovich é o primeiro repórter norte-americano a ser detido por acusações de espionagem na Rússia desde a Guerra Fria, lembrou a CNN. De acordo com o ‘The Kyiv Independent’, o jornalista foi preso durante uma viagem a Ecaterimburgo a propósito de trabalhos que estava a desenvolver sobre os métodos de recrutamento do grupo Wagner e a opinião dos cidadãos russos relativamente à invasão russa da Ucrânia.

“Estamos profundamente desiludidos com o facto de ele ter de suportar novas tentativas de o desacreditar e de pintar uma imagem dele que é irreconhecível para qualquer pessoa que o conheça. Evan é um jornalista e o jornalismo não é um crime”, declarou a família num comunicado citado pela CNN.

Emma Tucker, chefe de redação do ‘The Wall Street Journal’, publicou, na terça-feira, uma carta em que descrevia o julgamento como uma “farsa da justiça”. Os procedimentos judiciais deverão durar meses e provavelmente resultarão na condenação de Gershkovich, já que as absolvições são raras na Rússia, justifica o ‘The Kyiv Independent’. Se for considerado culpado, o jornalista pode apanhar até 20 anos de prisão.

Na Ucrânia, o Presidente Volodymyr Zelensky realizou uma visita surpresa à linha da frente na região de Donetsk, e aproveitou para apresentar às tropas ucranianas o recém-nomeado Comandante das Forças Conjuntas das Forças Armadas Ucranianas, Andrii Hnatov, escolhido por Zelensky para substituir Yurii Sodol no seguimento de informações não confirmadas de que o tenente-general teria sido objeto de uma queixa oficial ao Gabinete de Investigação do Estado por ações que levaram a perdas significativas entre as unidades militares sob o seu comando.

Num vídeo gravado em frente à placa de entrada de Pokvrosk, cidade a cerca de 70 quilómetros a noroeste da capital regional ocupada pela Rússia, o chefe do Governo ucraniano agradeceu aos defensores e aos médicos de Donetsk e revelou que participou numa “reunião detalhada sobre segurança e apoio à população”. Por outro lado, Zelensky reiterou a necessidade de os altos responsáveis se deslocarem ao terreno para conhecerem os problemas locais, “que não podem ser vistos a partir de Kiev”.

“Fiquei surpreendido ao saber que alguns dirigentes de relevo não vêm cá há seis meses ou mais”, referiu o Presidente da Ucrânia no vídeo divulgado nas redes sociais, prometendo que irá levar a cabo “uma conversa séria” com os oficiais em causa e retirar “as conclusões apropriadas em relação a eles”.

A visita está a ser encarada como uma tentativa de elevar a moral das tropas ucranianas naquela que é, a par da região de Kharkiv, uma das principais frentes ativas do conflito. Pokrovsk e o seu entorno concentram, atualmente, a maioria dos confrontos, havendo mais de 70 combates ativos, de acordo com dados avançados pelas Forças Armadas Ucranianas, citados pela agência estatal Ukrinform.

Apesar das dificuldades recentes devido aos atrasos no fornecimento de armas por parte dos aliados ocidentais, a “fome de munições” já terá sido ultrapassada, escreveu a Reuters. Nos últimos dias, as forças ucranianas terão repelido as tropas russas por seis vezes na região de Kharkiv, acrescentou a Ukrinform.

OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:

Os chefes da Defesa dos EUA e da Rússia falaram ao telefone pela primeira vez desde março de 2023, numa rara conversa entre as duas potências, que aconteceu depois de Moscovo ter responsabilizado Washington por um ataque mortal na Ucrânia, no fim de semana, na Crimeia ocupada. Esta foi a primeira conversa do secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, com o ministro da Defesa russo, Andrei Belousov, que iniciou funções em maio, de acordo com a AFP. Fonte daquele ministério referiu que a conversa aconteceu “por iniciativa do lado americano”, tendo o governante russo alertado para o “perigo de uma nova escalada da situação relacionada com o atual fornecimento de armas americanas às Forças Armadas da Ucrânia”. Também o Pentágono deu conta do telefonema em comunicado, afirmando que Austin “sublinhou a importância de manter linhas de comunicação abertas durante a guerra em curso”.

⇒ Na terça-feira, a Rússia e a Ucrânia realizaram mais uma troca de prisioneiros de guerra, tendo cada um dos lados libertado 90 militares, noticiou o ‘The Guardian’. De acordo com o jornal britânico, esta foi a primeira troca de prisioneiros em quase quatro meses e teve mediação dos Emirados Árabes Unidos.

⇒ A Rússia anunciou que está a trabalhar num novo acordo de cooperação bilateral com o Irão, de acordo com Andrei Rudenko, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, citado pela agência noticiosa estatal RIA. A informação foi igualmente avançada pela porta-voz daquele ministério, Maria Zakharova, que descreveu o novo acordo como “um grande tratado”, escreveu a Reuters.

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