O ex-ministro da Educação João Costa analisou o caso que envolve Cláudia Simões, cidadã que na segunda-feira foi condenada a oito meses de pena suspensa por crime de ofenda à integridade física e qualificada e por morder um agente da Polícia de Segurança Pública.

Em causa está uma situação de agressão que aconteceu numa paragem de autocarro na Amadora em 2020, quando a filha de Cláudia Simões se esqueceu do passe. As autoridades foram chamadas dada a discussão que se desenrolou entre passageiros e o motorista – e Cláudia foi imobilizada pelos agentes, quando se recusou a ser identificada.

Num artigo de opinião publicado no Expresso, o ex-governante aponta que não só a condenação tem “assinatura” apenas da juíza.

“A condenação de Cláudia Simões é um motivo de vergonha para todos nós e um sinal de todos os erros do Chega: a prova de que há racismo estrutural, a evidência da desigualdade de tratamento em função da cor da pele”, lê-se no artigo, depois de escrever alguns parágrafos que relembravam a manifestação organizada pelo Chega em agosto de 2020, que tinha como mote que Portugal não era um país racista. “Passados quatro anos não só o racismo estrutural continua a existir, como este partido tem sido o mais ativo contribuinte para a legitimação do discurso racista em Portugal, seguindo os passos dos seus parceiros de eleição na Europa e noutros países”, escreve João Costa.

Após dar conta ainda das ‘fake news’ e apontar vários exemplos relacionados com o partido presidido por André Ventura, o ex-responsável pela pasta da Educação aponta ainda não só para o contexto nacional, como internacional, quem mais promove e “a informação falsa” é a Extrema-Direita.

Mas, ‘pegando’ no caso que viu a condenação ser conhecida esta semana, João Costa escreve: “Eu não tenho qualquer dúvida, mesmo nenhuma, porque já aconteceu, que, se me esquecer do passe no autocarro, tenho compreensão, não é chamada a polícia e que, se for chamada, não acabo o dia com a cara esmurrada”.

E vai ainda mais longe, falando da filha da vítima, que na altura tinha oito anos, e colocando-a ao lado dos seus. “Como sei que os meus filhos, no caminho para a escola, nunca foram parados para serem revistados, ao contrário do que aconteceu várias vezes ao filho de uns amigos negros, jovem impecável que apenas era parado por ser negro”.

João Costa considera ainda que a juíza do Tribunal de Sintra que condenou Cláudia Simões, e “de acordo com os relatos disponíveis sobre a forma como a tratou durante as audiências, está, através do seu lugar, a legitimar todo o ódio e toda a perseguição que os negros sofrem e a ser agente das campanhas cheganas” – e para defender esta sua opinião, o ex-governante lembra ainda o vídeo das agressões, assim como as fotos e o rostos “espezinhado”.

“E vimos como André Ventura se entusiasma na defesa de tudo isto, ainda que de forma indireta, com os seus gestos de legitimação do lugar onde o racismo cresce nas forças de segurança. Esta juíza está a normalizar tudo isto, a prestar um péssimo serviço à justiça, porque transforma a vítima em culpada, emparelhando com os seus colegas magistrados que já fizeram o mesmo a vítimas de violência doméstica ou de violação, mitigando a culpa dos agressores ou sugerindo que a vítima ‘se pôs a jeito'”, escreve ainda o ex-ministro.

Em jeito de resumo, João Costa aponta novamente o dedo ao Chega, reforçando que o partido “tem permitido que haja cada vez mais Cláudias Simões em Portugal. Porque aqueles hematomas têm autores morais”.

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