Depois do espalhafato causado por “Pobres Criaturas”, filme excêntrico que dividiu as águas, amado por muitos e detestado por tantos outros, e uma vez passada essa empreitada de objetivas olho de peixe capaz de cruzar mansões vitorianas com paquetes de luxo e Mary Shelley com pastéis de nata, a que se somaram os louvores dourados do Leão veneziano e quatro Óscares da Academia, “Histórias de Bondade”, novo filme de Yorgos Lanthimos, é um voluntário passo atrás na escalada esperada, um sinal de modéstia, a priori louvável da parte do cineasta grego. Da obra anterior, Lanthimos trouxe Willem Dafoe e Emma Stone, aos quais juntou Jesse Plemons e Margaret Qualley (a miúda que quase todos descobrimos a pedir boleia a Brad Pitt no “Era Uma Vez em… Hollywood”, de Tarantino, teve um Festival de Cannes de arromba e presença em dois filmes do concurso). Chamou-os com vontade de fazer um filme de amigos, como se a intenção fosse a de fugir das malhas de Hollywood em que caiu com maior ou menor consciência, ou de, pelo menos, fazer uma pausa dessas andanças, uma coisa periférica, um tanto como a cidade em que o filme foi rodado, Nova Orleães. Talvez seja útil salientar que o argumento destas histórias já estava há uns anos guardado na gaveta e que vem coassinado pelo cineasta e por aquele que foi o seu guionista habitual desde “Canino” (2009), até “O Sacrifício de um Cervo Sagrado” (2017), o também ateniense Efthimis Filippou. A ele deve Lanthimos o lado absurdo dos seus guiões, uma certa irrisão de faca afiada que o pôs no mapa.

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