A Eslovénia é o Portugal de 2016, ainda vence o Euro

INGLATERRA 0-0 ESLOVÉNIA || É dos piores jogos deste Euro, quisemos muito que acabasse antes do tempo. E agora temos de escrever sobre um jogo obscuro – como se faz isso?

Se este artigo refletir devidamente o Inglaterra-Eslovénia terá

255 palavras para a direita

que são os passes lateralizados feitos nessa direção durante o jogo, terá

248 palavras para a esquerda,

que são os passes lateralizados feitos nessa… acho que já perceberam a ideia, e terá ainda

182 sarvalap satircse arap sárt

foi a maneira que encontrei de representar 182 passes para trás, não foi fácil chegar a este método e já estou a ser mais criativo que ambas as equipas no jogo inteiro, portanto: num jogo com 1027 passes, dois em cada três foram para o lado e para trás, foram para aborrecer o jogo, só a minoria dos passes é que pretendeu levar o jogo para a frente e provocar alguma alegria, que ainda assim foi muito pouca.

Esta Inglaterra está a sufocar no fato e gravata que Southgate a obriga a usar, isto apesar de a equipa ter tudo para se vestir à turista inglês no Algarve, que é sem roupa nenhuma: se é para a Inglaterra jogar futebol que é um atentado ao pudor que seja por ter todo o seu bom futebol à mostra perante o conservadorismo esloveno em vez de responder com conservadorismo inglês ao conservadorismo alheio, é que no futebol menos com menos não dá mais, dá é muito menos vontade de ver um jogo. E nem o futebol nem a Inglaterra merecem isso.

Sobre a Eslovénia podemos criticar a estética – 29% de posse, do pior neste Euro -, quatro remates – do pior neste… também já perceberam a ideia -, 19 ataques – do pior… pois, isso mesmo -, nenhum canto, mas ao menos a Eslovénia correu mais que a Inglaterra, não que correr mais seja bom mas eu só queria mesmo encontrar uma estatística em que a Eslovénia tivesse algo mais que a Inglaterra, é que até nos cartões amarelos a Eslovénia ficou para trás (dois amarelos para três ingleses), aliás, a Eslovénia não ficou para trás, deixou-se é ficar lá atrás, toda unida e fechada com o sábio Oblak a guardar a baliza, ele que tinha sofrido um golo contra a Sérvia e outro contra a Dinamarca mas que ficou de baliza limpa contra a alegada equipa mais forte do grupo – o uso deste “alegada” merece esclarecimento: aplico “alegada” para me referir à equipa e não ao facto de Inglaterra ser a mais forte do grupo, que é, mas joga como uma alegada equipa: tem Saka, Foden, Kane e Bellingham na linha da frente e leva apenas dois golos num grupo que tem o pior futebol jogado que vimos neste Euro. 

Jogar bonito também serve de muito pouco para quem tem uma missão e a Eslovénia tinha uma: sonhar com os oitavos, está a fazê-lo neste momento, daí que os eslovenos tenham celebrado de uma maneira bem bonita o futebol bem feio que proporcionaram, estão na rota dos oitavos de final e este 0-0 deixa-os até no caminho de Portugal – e cuidado com isso: a Eslovénia não perdeu nenhum jogo neste Euro, o que neste grupo C nem é um feito vendo o mau futebol que nele se jogou, mas a Eslovénia é umas das duas equipas que venceu Portugal desde que Roberto Martínez é selecionador: perdemos 2-0 num particular a 26 de março e o futebol desse dia teve o nível do deste grupo C – três ataques para Portugal, cinco para a Eslovénia, apenas dois remates enquadrados de Portugal e quatro da Eslovénia (quatro remates no caso da Eslovénia equivalem a 30 remates de uma equipa normal). Ou seja: a Eslovénia tem o dom de trazer ao de cima o pior futebol que há nos adversários, é toda uma nova técnica de jogar futebol – e é uma técnica perigosa, atenção.

E atenção a isto ainda: a Eslovénia tem três pontos e nenhuma derrota no seu grupo, está em vias de se apurar como terceira classificada, joga um futebol muito insuficiente mas ainda assim aparentemente difícil de derrotar – faz lembrar alguma coisa de 2016? É que se fizer, e se este artigo refletir devidamente o Euro desse 2016, a resposta terá

oito palavras. 

E não é Fernando. Mas podia ser. 

Surpresa do jogo

Absolutamente nenhuma.

Momento do jogo

Absolutamente nenhum.

Post scriptum